DIFÍCIL CONVÍVIO

Sempre quando se trabalha em alguma repartição, seja ela de natureza privada ou pública, a convivência entre superiores hierárquicos e funcionários comuns deverá acontecer de maneira cordial, respeitosa, num ambiente de camaradagem e boa educação; mas nem sempre acontece dessa forma.

Trabalhei cinco anos como bancário, sempre fui respeitado e jamais houve, da minha parte, qualquer desarmonia com o chefe e, muito menos, com os colegas.

Resolvi fazer concurso para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro; chamaram-me logo a seguir.

Fui designado para uma Vara Criminal onde o titular era um magistrado excessivamente exigente e tratava a todos com rispidez, fugindo às boas regras da educação. Sempre circunspecto e mal humorado.

No primeiro mês de trabalho, eu estava de plantão, sentado, junto à minha mesa, quando surgiu Sua Excelência, olhou sério para mim e disse:

― Você não tem vergonha de ver este cinzeiro imundo aí na sua frente? Vai cair a sua mão se o limpar?

Fiquei chocado com o modo como me abordou. Nem sequer cumprimentou-me.

Simplesmente respondi-lhe:

― Vossa Excelência está falando com a pessoa errada. Aqui no Tribunal existe o cargo de faxineiro. Além do mais, eu nunca fumei; e o senhor, que fuma, já limpou o seu cinzeiro alguma vez?

O homem ficou extremamente irritado, e exclamou:

― Já vi que nós não vamos nos entender nunca.

Entrou rapidamente em seu gabinete. O escrivão, que escutara tudo, disse-me:

― Você está doido? O homem é juiz!

― E daí? Se ele cismar de entrar na sua casa, sem seu consentimento, você vai deixar?

― Claro que não ― replicou.

Enfim, um tipo assim, só se pode admitir que seja um doente mental, ou sem educação, o que seria mais certo.

Felizmente só trabalhei um ano naquele Juízo. Fui transferido para outro setor completamente diferente, onde o titular era uma pessoa fina, educada, e o trabalho funcionava da melhor maneira possível.

Daí para a frente, trabalhei em muitos outros Juízos e nunca houve qualquer problema semelhante.

Orpheu Leal
Enviado por Orpheu Leal em 09/11/2012
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