Razões para chorar
Razões Para Chorar
Surpreso eu fiquei ao ver duas lágrimas rolarem sobre a face daquela jovem mulher, surpreso não pelo choro, que tantas vezes, nós mesmos, nos deparamos com um nó na garganta, e as lágrimas, a deslizarem rosto abaixo, enquanto disfarçamos que um cisco caiu em nossos olhos, principalmente os homens, que foram ensinados para não chorar. Quem de nós nunca ouviu, de um tio, tia, avô, avó ou dos próprios pais, “homem não chora” – frase mais besta!
O espanto maior foi ver um rosto tão bonito, um corpo delineado, e por trás das lágrimas, a frágil delicadeza de uma mulher. O que a teria motivado a soluçar baixinho, como se não houvesse ninguém por perto? De certo, alguma coisa acontecera para que as lágrimas jorrassem apagando o brilho de um olhar indagador.
Estático eu fiquei a pensar, e por vezes senti vontade de lhe perguntar o que a atormentava, mas, se quieto já estava, quieto ainda mais fiquei, talvez as lágrimas fossem como a chuva a molhar um jardim de rosas, que ao desabrochar, expõe as mais lindas pétalas e um aroma que só a natureza pode nos propiciar.
Haviam me falado que as mulheres tem disso, às vezes choram, mesmo quando não deviam chorar. Não me convence esta afirmação, sinto, pois, que o homem não entende a mulher, como ela desejaria ser entendida, e acredito ainda, que deveria ser mais compreendida. São elas, as mães de nossas mães, as mães dos nossos filhos e carrega uma carga emocional maior do que qualquer homem poderia carregar.
A jovem mulher, que poderia se chamar Carolina, Joana, Martha ou outro nome qualquer simbolizava naquele momento, a alma feminina de muitas mulheres que choram, seus sentimentos, suas angustias, a perda do ser amado e porque não, a própria felicidade alcançada; são razões por certo - qual seria a daquela mulher? É bem verdade que nunca saberemos.
Fiquei a observar, como se pudesse desvendar o mistério existente, por trás daquele soluçar, que mal se podia ouvir, e mesmo a distância, procurei entender palavras não ditas, embora, gesticuladas em seus lábios, num sussurro indecifrável, como se ela percebesse que alguém a percebia.
Desde então, tenho procurado entender as razões pelas quais choramos, e posso afirmar que ninguém chora por chorar. Sempre há uma razão, um motivo e chora-se até pelo prazer concebido. Há o choro por depressão, por sentimento, por dores, há o choro magoado; e o choro pela perda? Nem se comenta.
De todo coração, eu gostaria, que o choro da jovem mulher tenha sido de alegria, por alguma coisa que ao invés de haver perdido tenha ganhado, e que chorava pelo prazer do acontecido.
Mas, quem há de saber?
Novembro de 2006
Feitosa dos Santos, A.