Palavras de um futuro bom...
Faz tempo que quero escrever uma crônica sobre meu trabalho, afinal se passaram 14 anos dedicados ao serviço público com grandes momentos de vitórias e derrotas, sempre destinados à ação social, à Defesa Civil e agora neste simbólico final à Educação no Trânsito. Digo “simbólico final”, pois Uberaba se encontra em um momento histórico uma vez que no próximo domingo será realizada a eleição para prefeito, a primeira vez em segundo turno em nosso município.
Antes que o pragmatismo oceânico de alguns colegas me cubra com rótulos (o que sinceramente não me importa), prefiro falar sobre seres humanos, sobre tantas e tantas pessoas que fizeram parte desse meu caminhozinho.
É claro que o momento político influencia de forma cabal essa crônica de despedida, o que é bom, pois todo “fim” sinaliza um novo começo. Passo pelos corredores e vejo olhares assombrados, incertos com seu futuro. Mas uma coisa é certa: equipes (que funcionam) serão desfeitas e aquelas pessoas que fazem parte do nosso dia a dia não mais estarão lá. Seria utópico dizer que isso afetará mais aos medíocres, pois eles possuem uma excelente capacidade de vender suas almas. A despedida como chamo aqui, afeta a todos, não só nas discrepâncias do “pró labore” dos medíocres e dos quase altruístas (sim, tentei ser irônico), mas essencialmente porque todos têm anseios, receios, desafios e entrega pessoal, capazes de transformar seus potenciais em competências para a vida, porém muitas vezes manipulados de forma negativa pelo sistema/destino.
Uma boa metáfora vem dos Geraldos, Vandré e Azevedo, que assim escreveram em “Canção da Despedida”: “... Eu quis ficar aqui, mas não podia / O meu caminho a ti, não conduzia / Um rei mal coroado, / não queria / O amor em seu reinado / Pois sabia / Não ia ser amado...”. Canção escrita na fazenda do escritor Guimarães Rosa, na paisagem do Grande Sertão Veredas, quando acuados pela ditadura aguardavam o melhor momento para deixar o Brasil. O cenário que se vê hoje não é tão diferente, e nós simples mortais, servidores públicos, somos o reflexo do poder político a determinar o caminho de seu povo. O quanto sorriremos e o quanto choraremos está intrinsecamente ligado aos interesses do Governo e sou enfático ao afirmar que isso nunca vai mudar independente de nossa fé pública ou religiosa.
Por isso levarei saudade dessa história de vida que às vezes conquistei e outras tantas me foram impostas. Durante esse “caminhozinho meu”, conheci pessoas maravilhosas que estiveram ao meu lado sempre e das quais pude frequentemente ver o brilho dos olhos de quem acredita na Justiça, em Deus e (pobres coitados) nos seres humanos. Quero que saibam que ficarão eternizados em minha história e pedir que continuem a acreditar nos sonhos, pois sem eles, penso eu, se torna impossível continuar a lutar.
Renato Russo praticamente homenageou a si mesmo ao escrever “Love In The Afternoon” (Amor na tarde) e separei um trecho para concluir essa crônica: “...É tão estranho,os bons morrem antes / Me lembro de você e de tanta gente que se foi / Cedo demais / E cedo demais / Eu aprendi a ter tudo o que eu sempre quis / Só não aprendi a perder / E eu que tive um começo feliz / Do resto eu não sei dizer...”. A morte física é certa para todos, antes dela, porém, se dá o grande embate em que morremos ou vivemos a cada dia, aos poucos ou com tal intensidade que ficamos todos marcados pela existência uns dos outros. Seguimos assim, cada um para o seu lado, taciturnos e com pouca pressa aguardando o que o sistema/destino no encerra.