AO QUERER MONTANHAS...

AO QUERER MONTANHAS...

Rangel Alves da Costa*

Muito cuidado ao querer montanhas. Numa montanha há sempre o compromisso com a fé, o encontro com Deus, a elevação espiritual, a voz que de lá ecoa reafirmando a existência.

Montanha é muito mais que um cume, um monte elevado, uma cadeia extensa de montes, uma serra, uma cordilheira, um pico bem alto. Também pode não ser e nem estar na elevação que olhos descompromissados avistam adiante.

Montanha é muito mais que a elevação onde uma bandeira é hasteada, que o pico inacessível onde os condores fazem os seus ninhos, que a moradia da última pedra, da última orquídea selvagem, da flor ainda desconhecida. Mas também pode ser lugar de tudo isso.

Montanha é metáfora, é analogia espiritual, é significado de busca e de encontro, é a expressão da vontade maior e mais alta do ser. E também poesia, porque a montanha é despertar de sentimento, é meio de elevação da alma e do espírito.

Montanha é simbologia, é representação, é a revelação a partir do seu próprio conceito: aquilo que está mais alto ou que vem de onde é mais elevado. Se a palavra vem da montanha, então logo se entenderá por voz da sabedoria, por lição para a vida.

A Bíblia tem a montanha como a voz que expressa a verdade e os ensinamentos divinos. Neste sentido, a montanha ora está significando o poder de Deus sobre tudo, ora a fragilidade do homem que quer se mostrar grandioso; ora o lugar de encontro com Deus, ora local de onde descem as punições e os castigos.

E também a montanha como refúgio, como lugar seguro, para expiação dos pecados, para elevação e purificação da alma, para a proximidade da força e do poder de Deus. No seu cume paira, pois, o misterioso e o sagrado.

E diz a Bíblia: “Eu estarei contigo, respondeu Deus; e eis aqui um sinal de que sou eu que te envio: quando tiveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus sobre esta montanha” (Êxodo 3,12).

E também: “As bênçãos de teu pai sobrepujam as bênçãos das antigas montanhas, as aspirações das colinas eternas. Que elas desçam sobre a cabeça de José, sobre a fronte do príncipe de seus irmãos!” (Gênesis 49,26).

E ainda: “E Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. No dia seguinte, de manhã, edificou um altar ao pé da montanha e levantou doze estelas para as doze tribos de Israel” (Êxodo 24,4). “Moisés penetrou na nuvem e subiu a montanha. Ficou ali quarenta dias e quarenta noites” (Êxodo 24,18).

“Moisés desceu da montanha segurando nas mãos as duas tábuas da lei, que estavam escritas dos dois lados, sobre uma e outra face” (Êxodo 32,15). “Apenas elevei a voz para o Senhor, ele me responde de sua montanha santa” (Salmos 3,5). “Sobre o cume de elevada montanha preparas teu leito, e é aí que sobes para oferecer sacrifícios” (Isaías 57,7).

E o mais importante: “Eis a lei do templo: no cume da montanha, todo o espaço que o rodeia é área sagrada. Tal é a lei relativa ao templo” (Ezequiel 43,12). “Acontecerá, no fim dos tempos, que a montanha da casa do Senhor será estabelecida no ápice das montanhas, e será mais elevada que todos os outeiros. Os povos afluirão para ela” (Miquéias 4,1).

E foi da montanha que o Sermão foi pronunciado: “Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele” (São Mateus 5,1). Por fim, “Feito isso, subiu à montanha para orar na solidão. E, chegando a noite, estava lá sozinho” (São Mateus 14,23).

Por isso mesmo, ao querer montanhas procure saber primeiro o que deseja encontrar lá em cima. Dependendo da força de seu espírito, da sua fé e da sua crença no poder de Deus, nem precisará seguir por veredas espinhentas até o seu cume.

Aí mesmo onde está, no quarto, ao pé do altar ou no silêncio dos dias, encontrará o que tanto deseja em cima da montanha. O que se eleva é a sua fé para o encontro com Deus, e não a altura daquilo de onde esteja.

Poeta e cronista

e-mail: rac3478@hotmail.com

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