NARCISISMO COLETIVO

Política é algo que sempre me intrigou. Ano político municipal é algo tão engraçado e bizarro quanto o programa do Dr. Ray. Quer dizer, tudo inconvenientemente risível.

Em tempo, ainda acho que grande parte dos candidatos são como apresentadores de jornais sensacionalistas: falam na “língua do povão”; sugerem muito; fazem pouco; só querem audiência suficiente para manter o emprego.

Não é nem a quantidade dantesca de candidatos sem-noção que surgem de cá e de lá, as músicas de campanha feitas para a pessoa forçosamente se lembrar da criatura ou a tal “coragem” necessária para ser candidato – e eis outra coisa que me intriga, afinal político precisa ajudar o lugar onde vive a crescer, não ir à caça de jaguatiricas – que me assustam e fazem disto tudo uma versão local do Zorra Total. O que me assusta são os “eleitores”.

É nessa época que todo mundo vira apoiador político. Parece até que guardamos pílulas de ideologia para momentos chave. Se na Copa e em eventos esportivos todo mundo vira patriota, em ano político todo mundo vira democrata e partidário. O efeito dura até a doença acabar.

A panfletagem toma forma e salta aos olhos. Haverá sempre um adesivinho ou santinho (?) colado em algum carro ou em algum prédio. Claro que isso seria normal, desde que cada um tivesse um motivo concreto para fazer isso.

E qual bom motivo para os apoios? Nenhum, provavelmente. A pessoa ali só apoia seu candidato por causa de um parente, ou por ele ser mais bonito, ou por aquele ser “melhor” do que o outro, enfim, uma série de coisas que necessariamente NÃO ENVOLVEM POLÍTICA. E o assustador é ver que até mesmo crianças entram nessa roda. Nada mal aprender política desde cedo, mas fazer propaganda em prol de candidato tal não vai lhes adiantar nada, meninada. Vão brincar que vocês vão ganhar mais (comprovado que uma hora de brincadeira é menos deprimente do que três meses de campanha política).

E falo sério. Basta quinze minutos conversando com um apoiador de qualquer um dos lados para começar a se achar vidente, pois a falta de bons argumentos é tão gritante que você consegue prever o ritmo da conversa. Faça o teste. Cada candidato neste ano tem um esquema fácil de ser decorado. Marque umas cinco frases e veja-as se repetindo na boca do povo. Fique à vontade para gritar “BINGO”!

Creio que tudo isso não passa de mais um momento de narcisismo coletivo. Muitos gritando “EU VOTO PRA TAL E FAÇO MAIS AINDA DO QUE ANTES”, ou “EU NÃO VOU PERMITIR A REELEIÇÃO DE ALGUÉM!”, mas poucos necessariamente dando razões concretas para apoiar uns e não outros. Vejo poucos projetos concretos para o futuro, mas toneladas de ideias genéricas. Vejo muitos valorizando o que já foi feito, mas poucos planejando mais. Vejo luta entre porcos e carneiros, mas poucos seres humanos sensatos conduzindo essa pirraça toda. Em suma: é o narcisismo. Pena que nem todos conhecem o fim de Narciso.