Os pêsames do MATUTO

O meu avô paterno casou apenas uma vez e ficou viúvo muito cedo, mas não quis envolver-se em laços matrimoniais com ninguém, desse seu casamento nasceram três meninas MARIQUINHA, CÍCERA E AURORA a minha amada mãe.

Me reporto a minha tia Cícera Que teve nove filhos.

Seu marido que já não vive mais era comerciante ambulante e teve muitas dificuldades para criar e educar seus filhos naquele sertão mais que seco.

Vale salientar que por todos os lugares que “Tio Zé Lopes” passava fazia sinceras amizades, e os convites para ser padrinho de um pagão era o que não lhes faltava.

Um dos seus filhos perdendo o controle da bebida, a onde começou a beber muito novo e apenas por esporte, é lamentável que tenha sido classificado com um verdadeiro atleta... nesse atletismo contraiu uma cirrose e veio dela a falecer de forma triste para todos nós.

No dia do velório de Antônio, que também era o filho mais velho, o corpo estava sendo velado na casa do seu pai, num povoado mais ou menos movimentado, estava o caixão na sala, toda a família pranteando, e não parava de chegar gente de todos os sítios vizinhos e distantes para se condoer com a família e chorar os últimos momentos do amigo que acabara de morrer.

Vinham os compadres do seu pai, também já que o velho tinha deixado um forte laço de amizade em toda a redondeza.

Um padrinho do falecido não pode comparecer ao velório devido a distancia em que morava e também do seu frágil estado de saúde, mas teve o cuidado de enviar um dos seus filhos para representá-lo e confortar a comadre que pelo seu ver estava aos prantos pela perda do seu primogênito...

Foi naquela noite de prantos e lamentos que o jovem entra pela porta da frente e vai até o caixão, depois de um boa noite, atravessa a sala comprida e dar os pêsames a todos que estão em volta, mas do seu modo. - “MEUS PRESOS” Fita os olhos no morto e se lamenta, dando aquele porre de SIZANO, PITU E JURUBEBA INDIANO,... DO BORÓ DE FUMO E DA FAROFA DE SARDINHA, que todos juntos dava pra imaginar que ele tinha fumado um cigarro de bosta...

Depois se vira para a mãe do falecido e começa dialogar:

“Meu pai num pode vim, mai mi mandô, poi gostava múnto de Tõin e dixe qui num pudia vim cabá madô eu...

Bixim de Tõin sofreu múnto mai agora parô de sofrê... e a conversa continua até que surge a ultima pergunta:

Dona Ciça contos fí a sinhóra inda tem?”

A minha tia olha para o jovem que parece mais fora de si do que sintonizado no velório, e diz:

“Eu tinha nove meu filho, agora ficaram oitos. O matuto com aquele chapéu na mão, mas preso entre ela e o peito, se condói com a comadre do pai enche os pulmões e diz:

“Dona Ciça a sinhóra perdeu um só fí, ainda ficáro oito... esse que morreu num vai fazê farta a sinhóra não...e além do mai o bichim de tõin tava sofreno tanto quí era mió morrê mêrmo!! Pelo meno agora ele discança, a sinhóra num acha? Si conforme qui é mió pra sinhóra!!” Dai saiu e foi pro boteco.

Coitada da minha tia, que aumentou a angustia e já não sabia qual tristeza era maior, se a perda do filho ou pela visita do compadre pelo qual tinha muita estima, por seu correspondente.

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 20/09/2012
Reeditado em 26/11/2016
Código do texto: T3891348
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