LULA - ANJO OU DEMÔNIO - I - II- III
LULA : ANJO OU DEMÔNIO!?
Ontem, após escrever parcas linhas do meu novo livro, o romance DUAS FACES, saí para espairecer a mente e, como bom filho de Deus, tomar a cervejinha costumeira. Andava tranqüilamente curtindo o sol, que anda escasso nesta época do ano, e apreciando cada detalhe desta prazerosa cidade de Eunápolis que, por circunstâncias alheias a minha vontade, adotei como moradia. Ao passar absorto com meus pensamentos em frente a uma oficina de motos, um grito me fez voltar à realidade: Ô palhaço! Virei-me surpreso por alguém ter me reconhecido, dei um acanhado sorriso e fiquei procurando quem me chamava. Infelizmente não era nenhum conhecido ou leitor dos meus livros. Voltei a caminhar em direção ao meu destino e na esquina do quarteirão contíguo, novo berro de dentro de uma serralharia me fez estan-car: Ô idiota! Novamente parei, girei a cabeça e pensei: Agora é comigo! Não é possível tanta coincidência. Mais uma vez me enganara. O interlocutor não se dirigia a minha pessoa. Lastimando minha obscuridade, voltei a caminhar para o Bar do Flávio, ponto final onde refrescaria a garganta, a alma e refleti-ria sobre a vida. Faltando poucos metros para chegar, novo urro me fez parar: Ô babaca! Dessa vez resolvi não procurar por quem me chamava, voltei a caminhar e pensei: É... Eunápolis realmente é uma cidade grande! Como tem homônimos! Finalmente cheguei ao meu destino. Sentei-me, cumprimentei o Flávio e solicitei uma cerveja. O primeiro copo desceu como um maná dos deuses. Refrescou a garganta e o espírito. Ao término do segundo copo, por mais incrível que possa parecer, um transeunte passou à minha frente à galope e me congratulou: Ô palhaço! Tudo bem? Respondi com um sorriso e um balançar de cabeça que sim e voltei ao copo. Quando a cerveja terminou pedi outra nova. Enquanto Flávio foi buscá-la, refleti com meus botões: Que belo governo socialista nós temos! Agora somos todos iguais. Nos transfor-mou em verdadeiros palhaços, idiotas e babacas. Quando Flávio retornou com a nova cerveja, perguntou ingenuamente: - O senhor gosta desta cerve-ja, hem doutor!? Enchi o copo, olhei para o conteúdo com satisfação e res-pondi: - Embora seja uma cerveja nova, é muito saborosa! E o principal: é genuinamente brasileira e os impostos arrecadados ajudam aos seus ricos proprietários!
Em tempo - Desculpe meu erro, caro leitor. Onde se lê: os impostos arreca-dados ajudam aos seus ricos proprietários, lê-se: os impostos arrecadados ajudam ao nosso sofrido povo.
FRANCISCO ALONSO
Eunápolis, 7.08.2005
LULA : ANJO OU DEMÔNIO!? – II
Faltando vinte minutos para o meio-dia, encerramos a reunião. Foram mais de duas horas para acharmos um denominador comum, ou melhor, para acharmos a quantidade de zeros que faria parte do meu cheque referen-te ao adiantamento por mais uma edição do meu penúltimo livro: DIÁRIO DE UM CONDENADO. Quando terminamos, Sr. Robson, diretor da SOL EDITORA, disse: - Você só falta arrancar meu couro, Alonso! Ri do cinismo do meu editor e respondi: - Você não acha que está havendo uma inversão de valo-res, Robson!? O escritor é quem menos ganha com sua obra, basta ver os lucros das editoras e das livrarias. Robson deu um riso camuflado e quando ia rebater o telefone tilintou. Pedi licença e atendi. Uma voz misteriosa, visi-velmente distorcida por um aparelho eletrônico, disse: - Dr. Alonso, sou um admirador dos seus livros e dos seus pensamentos, por isso estou lhe envi-ando um documento que o deixará estarrecido. Vá ao Bar do Nego Gilvan, entre 12hs e 12.15hs, e sob o tampo da mesa cinco apanhe um envelope e leia o conteúdo. Depois, fique perto do orelhão da esquina e espere o meu telefonema. – Quem está falando? Qual o seu nome? – perguntei aflito. – O senhor não me conhece e não posso me demorar ao telefone, ele pode estar grampeado. – Mas qual é o seu nome?- insisti. – Me chame de Mister X. Respondeu a voz cavernosa e desligou. Intrigado pelo telefonema, relatei ao Robson o que acontecera e ele disse: -Então vá, Alonso, depois você me conta o desfecho dessa história. Nos despedimos, retirei minha moto Shadow da garagem e parti para o Bar do Gilvan. Quando cheguei, apeei da moto, olhei para os lados para ver se havia algo suspeito e procurei pela mesa cinco. Ela estava ocupada por dois casais. Disfarçadamente passei rente, deixei cair propositadamente meu isqueiro para ver sob o seu tampo, e constatei que um envelope pardo se prendia com fita adesiva. Sentei-me na mesa contígua e fiquei esperando. Cinco minutos depois os casais foram embora. Mais que depressa aboletei-me à mesa e de maneira dissimulada retirei o envelope. Abri-o com cuidado e constatei uma carta a mim endereçada e um documen-to em forma de discurso. A carta dizia: Dr. Alonso, sou agente da ABIN – A-gência Brasileira de Inteligência – e estou lhe enviando o discurso feito por um candidato a presidente uma se-mana antes das eleições. Leia com atenção e depois vá ao orelhão esperar meu telefonema. Assinado: Mister X. Cu-rioso, tomei do discurso e comecei a ler:
“Meus companheiros e minhas companheiras,
Nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que
Não lutaremos contra a corrupção.
Porque , se há algo certo para nós, é que
A honestidade e a transparência são fundamentais
Para alcançar nossos ideais.
Mostraremos que é grande estupidez crer que
As máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos, sem dúvida, que
A justiça social será o alvo de nossa ação.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
Se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos de tudo para que
Se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
Nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
Os recursos econômicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.”
Após lê-lo, guardei-o no envelope e corri para o orelhão. Cinco minutos depois, ele tocou. Mister X, sem rodeios, perguntou: - Gostou do discurso? Ainda surpreso sem saber o porquê de tanto mistério, respondi: - É um belo discurso e transparece o que o nosso presidente sempre pregou. Do outro lado da linha uma sonora gargalhada alvoroçou todos os pássaros de Eunápolis. – Então – continuou Mister X – volte ao Bar do Gilvan, peça uma cerveja e leia o discurso de baixo para cima sem pular uma linha. Mister X se despediu, prometeu me enviar novos documentos e desligou. Voltei ao bar, pedi uma cerveja e li o discurso como Mister X recomendou. Quando termi-nei, meus cabelos estavam de pé. Esvaziei o copo com avidez e tive vontade de me levantar e bradar: Salve Hitler!
Em tempo: Se o caro leitor souber quem é o presidente e a qual partido ele pertence, envie um E-mail para SOLEDITORA@BOL.COM.BR e concorra a trinta dias de férias no Iraque. Alerto que o prêmio é intransferível, exceto pa-ra sogras.
Francisco Alonso
14.08.2005
E-mail : franciscoalonso.adv.escritor@bol.com.br
LULA : ANJO OU DEMÔNIO!? – III – FINAL
Era minha intenção narrar em diversos artigos a infortunada saga do nosso querido presidente. Entretanto, um fato inusitado aconteceu no meu computador e me fez mudar de idéia. Meus seis fiéis leitores devem estranhar minha atitude e talvez estejam se perguntando: o que tem haver o compu-tador com isso? Esta pergunta é totalmente compreensível, pois até este sacrificado escritor ficou encafifado quando o computador se recusou a arquivar em sua memória mais uma história do ínclito presidente. Como é do conhecimento de todos que manuseiam um computador, o PC é uma má-quina es-quizofrênica, que fecha seus programas sem mais nem menos e apresenta mensagens nos chamando de asno sem termos nenhuma interferência em seu mecanismo. Portanto, isso foi o que aconteceu, meu computador estam-pou no monitor a seguinte mensagem quando escrevia o pretensioso artigo: - Você cometeu um erro fatal e o programa irá fechar. Em linhas minúsculas, ele completou: Por favor, não digite mais artigos sobre o presidente, a podridão é tamanha que meus arquivos se recusam a armazenar! Como era de se esperar, eu levei um susto ao ler a mensagem. Tentei diversas vezes escre-ver o artigo mas tudo foi em vão. A mensagem era repetitiva. O computador estava irredutível. Cansado de levar minha missão avante, desisti. Como não tinha mais nenhum assunto em pauta, resolvi desligá-lo. Quando estava fina-lizando a tarefa, uma brilhante idéia surgiu. Pensei: por que você, Alonso, não faz uma mea-culpa e escreve um artigo se autodenunciando que foi um dos colaboradores do mensalão? Que contribuiu efetivamente para a corrupção nos correios? Temeroso do computador não aceitar o artigo, mas, mais teme-roso ainda do Piauí me passar uma espinafração pela demora do novo artigo, resolvi arriscar.
O que vou narrar não é invencionice e espero que ajude ao leitor a se precaver ao mandar uma carta ou encomenda pela nossa prestigiosa EBCT – EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS.
Em 11/04/2005 mandei uma encomenda pelos correios para um caríssimo leitor que reside na Europa, mais precisamente em Barcelona, Es-panha. Foram dois livros que já estavam esgotados: O ÚLTIMO ROMANCE e O PROFETA DE BRUDERDORF. Gastei a bagatela de 36,45 reais, con-forme poderei comprovar pelo recibo em meu poder. Em 01/09/2005, para minha surpresa, recebi em minha residência os mesmos livros despachados nos correios. No recibo de devolução, datado de 1/9/05, quase cinco meses depois de enviá-los, constava o motivo: Devolvido por avaria no transporte. Imediatamente retornei à agencia dos correios com os livros devidamente embalados, conforme exigem para a postagem, para remetê-los novamente. Mais uma vez meu queixo caiu: exigiam que eu pagasse nova postagem, pois o prazo de três meses para a reclamação já havia se esgotado. Tentei argu-mentar. Mostrei o recibo da devolução datado com a data de retorno e etc. etc. Tudo inútil. Transtornado pela falta de respeito e pelo descaso, liguei para o CAC 0800-570-0100, código 1522579, e expliquei o que estava aconte-cendo. Ao final, gentilmente, me prometeram estudar o caso. Três dias de-pois, recebo um telegrama dos correios no qual lamentavam o transtorno mas que nada podiam fazer devido já ter se esgotado o prazo de três meses para a reclamação. Cioso dos meus direitos e esperançoso de que nossa JUSTI-ÇA pudesse interceder na reparação do dano pela EBCT, procurei um advogado em Eunápolis. Infelizmente mais uma vez a sorte me foi madrasta: eu só poderia ingressar na JUSTIÇA FEDERAL na Comarca de Ilhéus, a 300 Kms da minha residência, por ser a EBCT uma empresa pública. Ainda inconformado, procurei o PROCON. Nova desilusão. O PROCON de Eunápolis é incompetente para tal procedimento, só em Ilhéus. Ao voltar para casa com as informações do advogado e do procon, fiz os cálculos das minhas despe-sas para levar adiante a luta por meus direitos e resolvi abandoná-la. Quando terminei de escrever este artigo, que espero sirva de alerta para o sofrido po-vo brasileiro, meu computador apresentou a seguinte mensagem no visor: Por que você não coloca uns dólares na cueca e se muda para outro país?
EM TEMPO: Por que o ilustre prefeito de Eunápolis não faz uma campanha alertando ao povo da cidade para não colocar saco de lixo na rua depois do caminhão passar e nos dias de domingo? ...Eta povinho mal educado!!!!!!!