NEM DEUS É UNANIMIDADE

NEM DEUS É UNANIMIDADE

Ao retornar ao jornal para mais um dia de trabalho, sobre minha mesa repousavam três cartas. Com curiosidade examinei os remetentes e, com um sorriso jovial, pus-me a ler o conteúdo. As duas primeiras, as quais foram escolhidas com primazia, enalteciam a volta do jornal e teciam rasgados elogios ao meu artigo. A terceira missiva também expressava seu contentamento com o regresso do jornal e, para minha surpresa, desancava desaforos contra meu artigo. Entre os impropérios alencados, o mais cândido me chamava de “puxa-saco” do prefeito. Como as duas primeiras cartas não são dignas de muito crédito, pois os remetentes são pessoas do meu convívio e quando criança me achavam o menino mais lindo do mundo, não vou comentá-las – obrigado a papai e mamãe.

A terceira carta merece maior reflexão e vou me ater ao seu conteúdo. Não vou declinar o no-me do remetente, pois não estou autorizado e também não acho de muita valia. Entretanto, vou chamá-lo de MISTER X.

Mister X crucifica meu artigo porque o Pro-fessor Hetílico relata, “com maestria”, que o atual pre-feito de Prado paga aos funcionários em dia, zela pela cidade e não trocou votos por conta de luz.

Diz Mister X, que o prefeito não faz mais que sua obrigação, que ele é um aventureiro e que somente está de passagem pela cidade para alçar vôo mais distante.

Concordo com Mister X quando diz que o prefeito não faz mais que sua obrigação. Não concordo quando diz que lhe puxo os escrotos, haja vista que até com os meus próprios não tenho tanta intimi-dade e não me apraz quando tento manuseá-los.

Alerto a Mister X, que este colunista também não é originário desta Cidade de Prado, como o prefeito, moro aqui por opção e prazer, e por residir nesta aprazível cidade não gostaria de vê-la abandonada e maltratada como fora por todos os demais pre-feitos que antecederam o atual, com exceção de ZÉ FONTES, cuja população não reverencia os devidos méritos. Por favor, Mister X, não vá alardear aos qua-tro ventos que também “puxo o saco” de Zé Fontes!

Esclareço a Mister X, que minha única preocupação é com a cidade e o bem-estar que ela proporciona a população. Não me interessa se o Pre-feito é preto ou branco, evangélico ou católico, se é filiado ao TP, PVC, PQP, PMDBFG ou qualquer outro partido. Meu interesse é simplesmente com a cidade, e lhe asseguro Mister X, se o prefeito não cumprir com suas obrigações, eu não lhe puxo o saco, eu o arran-co.

Deixando as partes íntimas do nosso mandatário para quem de direito, vou passar a um tópico que reputo de suma importância na carta de Mister X.

Mister X pergunta: por que o Ilustríssimo

prefeito não reserva parte do dinheiro de suas obras faraônicas para incrementar o folclore do município que está desaparecendo?

Mister X suscita outra questão que, segun-do ele, é voz corrente pela cidade: que o Digníssimo Prefeito não irá alavancar o CARNAVAL da cidade. Que não investirá na contratação de bandas famosas e se cingirá apenas às bandas caseiras sem origem e de repertório fixo. Que seu objetivo não é incrementar o turismo, e sim, fazer obras.

Mister X apresenta uma solução a qual transcrevo: “...Se for para o desenvolvimento do turismo de Prado, minha Tia Luquinha, bilionária do Rio de Janeiro, se prontifica a financiar a vinda de Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e outras bandas. Mi-nha tia já está cansada de um carnaval com bandinhas da cidade.”

Quero dizer a Mister X, que não acredito e não posso afirmar que o prefeito pense dessa manei-ra. Porque, se esse for seu pensamento, ele estará indo contra tudo que está fazendo na cidade. Eu não acredito que o Prefeito pense que canteiro de obras é que atrai turistas, ajuda, mas é secundário, pois se canteiro de obras atraísse turistas, a antiga Alemanha Oriental estaria abarrotada deles.

Com a palavra o Digníssimo Prefeito *LITTLE WILSON.

Little – palavra inglesa que significa “pequeno”.

Jornal de Prado - 30.06.2002

francisco alonso
Enviado por francisco alonso em 05/09/2012
Código do texto: T3866378
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