VOCÊ NÃO É IMPORTANTE

Muitos acreditam, pelo prestígio que desfrutaram, pela riqueza, pela simpatia da mídia, pela beleza, talento ou qualquer outro elemento, que são very important people e que essa condição VIP é algo de visceral, como se fossem figuras do naipe de uma Marilyn Monroe, a mais bela e sexy das fêmeas planetárias; Marilyn morreu muito jovem, aos 36 anos, no auge da fama e beleza, e isso foi decisivo para catapultar o mito.

Mas não adianta avisar, o ser humano não aprende: você acha que sua importância vai durar para sempre e que, depois, bem, depois, você ainda será lembrado e tratado com a maior consideração, como se fora um príncipe. Este sentimento talvez explique seu pouco cuidado com detalhes biográficos; afinal, uma desatenção aqui, um desvio acolá, uma pequena injustiça, nada comprometerá o fluxo inexorável de seu poder e a amplitude de seu conceito público. Por mais que os fatos históricos atestem o efêmero, o circunstancial e o transitório, seu espírito ainda é refém do pecado original, da tentação bíblica insuportável, que fulminou Adão e Eva.

Grandes líderes, políticos, artistas, empresários, intelectuais badalados de ontem, digamos assim, têm dificuldade enorme de compreender as pedradas que eventualmente recebem, as armadilhas da vida na planície, os tropeços que a dureza da liça costuma impor a todos. É difícil, por vezes, ter consciência de uma cotovelada aplicada no calor da refrega, mas certas pequenas infrações acabam por cobrar seu preço, mais cedo ou mais tarde. E quando você se acha importante, qualquer continha apresentada é um assalto.

Seja, portanto, realista, não deixe de pensar no amanhã e tenha a mais absoluta certeza de que, neste sentido grandiloquente, você não é tão importante assim. Cuide mais da família, dos verdadeiros amigos, dos colegas, até dos vizinhos, e deixe de ser bobo.

Há casos extremos, de psicopatia modelar e relativamente recentes, que também é útil conhecer e ter em conta. Pablo Emilio Escobar Gaviria, colombiano de Medellin, que, segundo consta, faturava mais em venda de cocaína do que a receita bruta da GM - a maior companhia americana de então - dizia que era o mais importante homem do mundo, depois do Papa. Declarou e praticou a guerra sangrenta e cruel contra o Estado colombiano, mas acabou abatido a tiros sobre um telhado, como um delinquente qualquer. Hoje, é mera curiosidade, que o cinema explora muito bem.