História que se viu: a maconha
Por duas vezes seguidas, constatei que as coisas da rua são surpreendentes. Tudo que acontece na rua tem uma magia literária diferente, um quê de indagação sobre a liberdade no seu mais real sentido, no seu mais amplo grau.
Foi no meio da rua que vi garotos puxando um baseado e, em cada tragada, uma rebolada até o chão. Muito pior que o tcha tchu tcha, mas muito mais autêntico, livre. Mas me pergunto porque que esses garotos não vão se ver livres na arte. Talvez porque, neste país, com tantas pessoas aprisionando a alma das outras, ser livre tomou outros rumos. É necessário, talvez, estar fora de si para ser livre. Se libertar de si mesmo, dos outros, das amarras sociais.
Foi, novamente, no meio da rua que vi garotos, outra vez, fumando a tal da maconha. Dessa vez, em cada tragada, a língua deles percorria o asfalto. Aquilo me chocou e me levou para o último andar da reflexão sobre os causos contados pelas expressões artísticas. Elas não são apenas formas de inventar o mundo. Elas o refletem, o contam, o mostram para quem quiser ver. Só é difícil encontrar quem abra os olhos.
Depois de lamber o asfalto, eles corriam livres por entre os carros engarrafados. Se mostravam desnorteados, num caminhar lento e simples de quem queria fazer versos. Não tinham encontrado como. Só enxergavam uma única maneira de viver a liberdade.
Depois de tanto correr, eles pararam. E, com pedras, começaram a escrever palavras soltas em um muro, sorrindo e querendo tomar a vez do outro. Eles tinham pressa. Precisam voar.
Sorriam, sorriam muito, como se tivessem descoberto que as palavras libertam. Com elas, tudo é possível. Com elas se pode ser puro, se pode estar puro!