Pensando em procurar um psicólogo
Numa extrema e difícil manhã, no caminho para o trabalho, veio-me um estalo à mente. Branco. Preto. Foi assim que as cores surgiram diante da minha visão.
Meus olhos lacrimejaram com a claridade do branco e, ao mesmo tempo, procuraram chão ao se verem laçados pelo escuro da visão.
A princípio, aquilo passou despercebido. Depois, surgiu uma dor no peito. Não uma dor física. Diria que uma dor poetizada, daquelas que fazem muitos sofrerem por algo abstrato, por algo aparentemente sem cura. Aquela dor me fez pensar. Ao pensar, a memória falhou. A sensação que tive foi a mais esquisita que já sentira naqueles últimos meses tão excitantes e conturbados. Quem estava ali falando e pensando por mim? A minha família? O algo novo? O medo de perder? Ou de ganhar? A razão? A emoção?
Várias perguntas calaram meus pensamentos. Por alguns segundos, consegui não pensar em nada. Sábio pensamento chinês! Foi o que me veio à mente quando os pensamentos retornaram.
Rapidamente, controlei uma lágrima. Era a claridade fazendo os meus olhos lacrimejarem. Pensei. A tal claridade viera, naquela manhã, cúmplice da angústia. A luz não deixaria de camuflar a angústia. Ainda assim, a lágrima teimou em rolar.
Ao rolar tão devagar pelo meu rosto, percebi que a vida passava devagar e estranhamente disfarçada, escondida, camuflada por sentimentos novos, por medos e prazeres novos. Percebi que algo quebrava, que meus pensamentos mergulhavam na incoerência, que queria tocar, que queria abraçar algo que parecia estar tão distante...
Será que haveria paciência? Será que o sofrimento já não tinha passado dos limites?
Ao sentir novamente a dor no peito, desci do ônibus. Vi o sol. Senti a brisa do mar. Foi nesse momento que constatei que precisava de um psicólogo, ou, simplesmente, de um professor.