Encontros na Praça Olímpio Campos

Tenho lembranças dos meus tempos do Colégio Jackson de Figueiredo, as quais os anos ou infortúnio dificilmente fará que se apaguem na minha memória. Dentre elas, posso recordar que nessas minhas séries do Ensino Fundamental. Lá pelas tantas findava o turno da tarde, quando ecoava o sinal de saída, para assim podermos atravessar os portões abertos pelo Seu Paulo, porteiro de longa data, a saber, por também ter exercido tal profissão em um dos estabelecimentos educacionais frequentado por minha mãe. Caminhando rumo a minha casa deixava o prédio do colégio para trás, com suas enormes janelas e arquitetura de linhas simples, com alguns ornamentos em estilo barroco que assim se mantinham desde os tempos de Judite e Benedito de Oliveira.

Fechavam-se as portas do colégio, abriam-se para mim as portas da escola da vida... Em meus retornos para casa, por vezes acompanhada por alguma companheira de estudos, ou então, como em sua maioria, solitários. Ao cruzar pela Praça Olímpio Campos, eu pude desfrutar de encontros com figuras nobres e inusitadas... Não eram raras às vezes que podíamos encontrá-las. J. Inácio era um dessas personalidades, o artista sempre andarilhava pelas ruas de Aracaju, com muita simplicidade. Fácil era identificá-lo, sua roupa sempre suja de tinta, deletava-o. Comendo pão, ou manga sem dentes na boca, chegando a me parar no caminho pra oferecê-los a mim. O artista era simpatia e sabedoria, defendia que as árvores da praça deveriam ser frutíferas como: mangueiras, cajueiros, jaqueiras, que serviriam para diminui a fome dos mendigos da cidade, e não pés de mata-fome. Ecologista convicto! Seus quadros possuíam um visual tropicalista e ecológico, predominando a cultura nordestina, com suas famosas bananeiras, retratava as praias, casa de farinha, casarios... Outro dado a andanças, de passos ligeiros era o Padre Pedro, irmão de J. Inácio, acima de qualquer religiosidade, era um ser humanitário, com sua batina desbotada e com sacolas com comida víamos sempre a dá conforto de alimento aos pedintes da cidade, onde quer que estivesse deixava exalar o seu altruísmo a flor da pele, dotado de abdicação por amor ao próximo... Ainda posso falar de outra nobre figura que transitava dentre os transeuntes. Era o Zé Peixe que quando não estava fazendo seus saltos ao mar numa altura de cerca de 40 m, levando e trazendo navios até o porto a nado, ou os esperando em uma boia, onde ficava até mais de dez horas, podíamos nos deparar com ele, que assim com J. Inácio e Padre Pedro, também tinha vestes peculiares, que se refere a suas calças amarradas por um cordão e seus pés sempre descalços. Assim ia aquele homem meio curvo com a pele curtida de sol e sal, tentando puxar conversas com terceiros sobre os movimentos das areias, os ventos, as marés...

Ainda hoje passeio pelas praças e ruas em forma de tabuleiro de xadrez de Aracaju, e já não vejo a roupa suja de tinta de J. Inácio, a sacola de alimentos do Padre Pedro, e ninguém com a pele causticada pelas marés como Zé Peixe... Não estão mais dentre nós em suas formas carnais. Hoje encontro seus nomes em galerias de arte, restaurante, escola, parque aquático, estátua... São reverenciados tanto pelos intelectuais quanto por gente comum, a qual eles conviveram em toda sua existência. E são reverenciados também com orgulho e na lembrança de uma simples colegial, que se aventura em fazer crônicas sobre as personagens imorredouras que viveram a realizar grandes obras, com simplicidade de não se considerarem extraordinários ou diferentes dos demais, deixando-nos assim o exemplo.

Rafaela Barreto
Enviado por Rafaela Barreto em 15/08/2012
Reeditado em 15/08/2012
Código do texto: T3831752
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