No embalo da viagem

Mais uma vez, cumpro a promessa de relatar a viagem que fizemos a Israel. Hoje, falarei sobre os pergaminhos bíblicos achados nas cavernas do Mar Morto, e de Jericó, a mais antiga cidade do mundo.

Estivemos em Qumran. Nessa localidade, em 1947, dois jovens pastores beduínos procuravam, nas cavernas do Mar Morto, uma cabra dispersa do rebanho. Ali, encontram, em vasos de barro, textos completos e fragmentos das Escrituras Sagradas, conhecidas por Manuscritos do Mar Morto, possivelmente copiados pelos essênios, comunidade que viveu isolada no segundo século a.C., a fim de estudar e praticar a palavra de Deus.

Os textos descobertos constituem a versão mais antiga da Bíblia, com idade superior a dois mil anos. Atualmente, encontram-se guardados no Museu de Israel, em Jerusalém. Explorações arqueológicas posteriores encontraram novos manuscritos em outras dez cavernas, inclusive livros apócrifos, destituídos de autoridade.

Antes desses achados, os textos mais antigos datavam do nono e décimo séculos de nossa era. Até então, a Bíblia carecia de confiabilidade, pois as cópias existentes poderiam ter sido alteradas ao longo dos anos. As investigações procedidas nos textos encontrados em Qumran, todavia, mostram que são quase idênticos aos preexistentes, exceto quanto aos livros de Êxodo e de Samuel.

O professor Júlio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de editores dos Rolos do Mar Morto, assegura, sobre o Livro de Isaias, também encontrado em Qumran, o seguinte: "O Rolo de Isaías fornece prova irrefutável de que a transmissão do texto bíblico, durante um período de mais de mil anos pelas mãos de copistas judeus, foi extremamente fiel e cuidadosa".

No trceiro dia de excursão, chegamos a Jericó, a mais antiga cidade do mundo, com idade superior a dez mil anos. Foi lá que os israelitas chegaram do exílio no Egito, depois de peregrinarem por quarenta anos, sob o sol escaldante do árido deserto.

Jericó consta no Velho Testamento como a Cidade das Palmeiras, em virtude da abundância dessas plantas na região. Está situada às margens do rio Jordão e dista 27 quilômetros de Jerusalém. A respeito da milenar cidade bíblica, o capítulo 34, versículos 1 e 3 de Deuteronômio diz:

"Então, subiu Moisés das campinas de Moabe ao Monte Nebo, ao cimo de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã. (versículo 1); E o Neguebe e a campina do vale de Jericó, a cidade das Palmeiras, até Zoar. (versículo 3).

A cidade de Jericó é citada mais de setenta vezes na Bíblia. O Novo Testamento a menciona em várias ocasiões. O Livro de Josué conta a batalha de Jericó, rodeada por sete vezes pelos filhos de Israel, até que seus muros ruíssem. Isso aconteceu no ano 1250 a.C. As Escrituras mencionam esse episódio assim:

"Gritou, pois, o povo, e os sacerdotes tocaram as trombetas. Tendo ouvido o povo o sonido da trombeta e levantando grande grito, ruíram as muralhas, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si, e a tomou". (capítulo 6, versículo 20).

O profeta Jeremias faz mais uma referência a Jericó, no capítulo 39, versículo 5. Trata do fim de Zedequias, rei de Judá, capturado por Nabucodonosor, depois de matar os filhos do monarca, sob o olhar condolente do pai das vítimas. Em seguida, vazou os olhos do rei e o conduziu à Babilônia, manietado por cadeias de bronze.

As citações a Jericó, constantes do Novo Testamento, estão explicitadas nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e na Epístola aos Hebreus. Dizem o seguinte:

"Saindo de Jericó, uma grande multidão o acompanhava. E eis que dois cegos, assentados à beira do caminho, tendo ouvido que Jesus passava, clamaram: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós!" (Mateus, capítulo 20, versículos 29 e 30);

"E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó, juntamente com os discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu, estava assentado à beira do caminho". (Marcos, capítulo 10, versículo 46);

"Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto". (Lucas, capítulo 10, versículo 30)";

"Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, depois de rodeadas por sete dias". (Hebreus, capítulo 11, versículo 30).

As nossas visitas aos lugares sagrados de Jericó foram proveitosas. Estivemos na nascente de águas purificadas por Eliseu, segundo foi narrado no Livro de II Reis, capítulo 2, versículos 19 a 22:

"Os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é bem situada esta cidade, como vê o meu senhor, porém as águas são más, e a terra é estéril". (versículo 19);

"Ele disse: Trazei-me um prato novo e ponde nele sal. E lho trouxeram". (versículo 20);

"Então, saiu ele ao manancial das águias e deitou sal nele; e disse: Assim diz o Senhor: Tornei saudáveis estas águas; já não procederá daí morte nem esterilidade". (versículo 21);

"Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas, até o dia de hoje, segundo a palavra que Eliseu tinha dito". (versículo 22).

Conhecemos a sicômoro (figueira) no qual subira Zaqueu, para ver Jesus. O Evangelho de Lucas, capítulo 19 menciona este fato:

"Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de pequena estatura. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali havia de passar". (versículos 2 e 3).

Estivemos na Fonte de Jacó, nas cercanias de Samaria, escavada há 3.000 anos. Hoje, existe no local ruínas de uma igreja construída por Helena, mãe do imperador Constantino, convertida, como o filho, ao cristianismo. O antigo templo foi reconstruído pelos cruzados, depois de destruído.

Abro um parêntese, para um breve comentário sobre os cruzados: O papa Urbano II empreendeu uma das mais ousadas aventuras da história. O pontífice desejava retomar Jerusalém, dominada pelo islã. Sua Santidade ofereceu perdão dos pecados aos cristãos que integrassem as cruzadas, para libertar Jerusalém. Os cruzados conquistaram Antioquia em 1098 e, em seguida, Jerusalém, onde foram mortos cerca de cinquenta mil mulçumanos e judeus. As cruzadas tiveram vida longa: quatrocentos anos.

Volto a falar sobre Jericó e da presença de Jesus na região. Na Fonte de Jacó, certa vez, Jesus, a caminho da Galileia, pediu água a uma mulher samaritana. O Evangelho de João (capítulo 4, versículos 5 a 7) narra:

"Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José". (versículo 5);

"Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta". (versículo 6);

"Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber". (versículo 7).

Ao final da tarde de 11 de maio, visitamos o Monte da Tentação, situado a oeste de Jericó. No local, encontra-se erigido um monastério grego ortodoxo. Conforme a Bíblia, Jesus foi guiado pelo Espírito Santo para o deserto, onde se isolou por quarenta dias e quarenta noites, sendo tentado pelo diabo. Os evangelistas Marcos e Lucas dizem:

"E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam". (Marcos, capítulo 1, versículos 12 e 13);

"Disse-lhe, então, o diabo: Se és o filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão. Mas Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem". (Lucas, capítulo 4, versículos 3 e 4).

Jericó foi submetida a diversos domínios. De 661 a 750, pela dinastia omíada; depois, pelos califados árabes das dinastias abássida e fatímida, passando pelo poder dos turcos seljúcidas e dos cruzados. Mais recentemente, de 1517 a 1918, foi dominada pelo império Otomano. Atualmente, Jericó pertence à Palestina. Difere das cidades israelenses por serem estas urbanisticamente superiores e pela limpeza e asseio de suas ruas. A população palestina é pobre, comparada à israelense. Belém, onde nasceu Jesus, assemelha-se a Jericó, nesse particular. Como a outra, também está sob domínio palestino.

Fico por aqui. Caso o leitor tenha gostado da história que acabei de contar, lerá a próxima dissertação. Até lá!