Rimadores Compulsivos Anônimos

"Nunca discuti sobre isso, mas dá uma pontada no meu peito quando rimo um verbo no infinitivo com outro no infinitivo. Quando o faço, eu o faço com agonia." disse o primeiro poeta.

"Certas palavras são tão rimadas umas com as outras que eu sinto vontade de rasgar meu poema: amor com dor, sentimento com sofrimento, Jesus com luz." disse a poetisa viciada em rimas inusitadas.

"Só deve ser T.O.C literário, tipo quando uma pessoa maníaca por limpeza não quer tocar na maçaneta." diagnosticou outro.

"Por favor, alguém joga em mim um livro de poesia de alguém bem livre e despreocupado para ver se eu paro com frescura." gritou um levantando desesperado.

"Já fui tachado de superficial e parnasiano sem esperança." confessou um velho poeta escondendo o rosto.

Depois de escutar todos os desabafos, o mais novo do grupo se levantou e disse: " Se vocês sofrem e se sentem acorrentados com isso, mudem de estilo. Mas não o façam porque a crítica contemporânea os constrange. Afinal, uma poesia livre não precisa necessariamente ser desprovida de norma e rima, ela só não pode ser desprovida de alma!"

E com aquela frase, o grupo de Rimadores Compulsivos Anônimos chegou ao fim. Todos finalmente entenderam o sentido de se escrever com liberdade.

Perle
Enviado por Perle em 29/07/2012
Reeditado em 03/08/2012
Código do texto: T3802838
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.