A Caminho do Gólgota IV
Conforme prometido, aqui estou para novas informações sobre a viagem dos peregrinos da Igreja Memorial Batista de Brasília a Israel. Na última narrativa, afirmei que daria a cada uma o mesmo título da anterior, sequenciado por algarismo romano. Esta, portanto, é quarta etapa de minha promessa. Espero seja tão bem acolhida como foram os textos passados. Eis, então, o que reservei para seu deleite cultural:
Transitamos pelos desertos de Neguebe, Arabá e Aravá. A região é montanhosa e inóspita. A área desértica abrange quase sessenta por cento do território israelense. Todavia, os esforços do seu povo foram recompensados. Os habitantes da região produzem e utilizam energia elétrica movida a gás e a carvão mineral, obtidos no país.
Descobertas recentes de petróleo e gás animam esses desbravadores do deserto. Estima-se que Israel, que também extrai petróleo para suas necessidades domésticas, em breve conquiste o terceiro lugar na produção mundial de gás.
Mesmo em terras áridas do imenso deserto, o sistema de irrigação para a agricultura proporciona grande fartura. O país é responsável pela produção de todos os alimentos de que necessita. Frutas, legumes e verduras são abundantes e o excedente é exportado para a Europa. Israel também cultiva algas, destinadas ao mercado da Coreia do Sul.
Vimos a possível localização das Minas do Rei Salomão. Timna, parque ecológico de grande aceitação turística, na divisa de Israel com o Egito, produziu cobre por seis mil anos. Também avistamos os montes por onde peregrinaram os filhos de Israel, por quarenta anos.
A fim de aliviar a bexiga que nos incomodava, fizemos breve parada num ponto comercial de beduínos, local onde, em 1973, foi assinado o tratado de paz entre Israel e Egito.
As regiões desérticas por onde passamos são as mais baixas da Terra. Cerca de 410 metros do nível do mar. Durante o percurso, nos foi mostrada a localização de reatores nucleares, de mísseis e satélites que patrulham a região contra ataques inimigos.
Conhecemos Berseba, onde Abrão deixou o filho gerado com a escrava Agar, Ismael, conforme está escrito no versículo 14 de Gênesis, capítulo 21:
"Levantou-se, pois, Abrão de madrugada, tomou pão e um odre de água, pô-los às costas de Agar, deu-lhe o menino e a despediu. Ela saiu, andando errante pelo deserto de Berseba".
Foi de Berseba que Deus chamou Abraão, para que ele sacrificasse seu único filho, Isaque. Gênesis, capítulo 22, versículos 1 e 2, narra esse episódio:
"Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este respondeu: Eis-me aqui!" (versículo 1).
"Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei" (versículo 2).
Na ingente e cansativa jornada, conhecemos os kibutzim. Segundo escreveu o pastor Josué, no Guia Espiritual do Peregrino, Kibbutz significa “reunião”. É uma forma de coletividade comunitária, instituída pelos israelenses. Em regime cooperativo, combinando socialismo e sionismo trabalhista, os kibutzim desempenharam grande participação no desenvolvimento econômico do país, durante a criação do Estado judeu. “Os kibutzim são uma experiência única israelita e parte de um dos maiores movimentos comunais seculares na história”, escreveu o pastor Josué.
Estivemos em alguns desses empreendimentos. Em paradas para atender as reclamações das abarrotadas bexigas, conhecemos suas instalações e forma de atendimento. Um deles, porém, foi visitado especialmente: O que é administrado por Salo Kapusta, o nosso guia. Ali, depois de conhecermos parte das instalações, almoçamos na com-panhia dele e da esposa, que também é cristã, juntamente com filhas e genros.
Ainda naquele dia, visitamos uma réplica do Tabernáculo. Imitações da Arca da Aliança e de utensílios utilizados nas cerimônias foram dispostos para a apresentação, efetuada por um jovem judeu messiânico, convertido ao cristianismo. Infelizmente, não lhe recordo o nome.
A exposição foi esclarecedora e contou com o auxílio de Salo e do pastor Josué. Ficamos satisfeitos com as explanações que, por certo, clarearam as nossas mentes, livrando-nos da ignorância que nos acometia até então.
Ao final da tarde de intensa peregrinação, trafegando pela região de Ein Bokek, chegamos ao local onde se situa o Mar Morto. Depois de acomodados no hotel, algumas pessoas do grupo saíram para banhar-se naquele excepcional lago de águas densas, de consistência e aspecto gelatinoso. Essa foi a minha impressão, quando as apalpei para avaliá-las empiricamente.
Infelizmente, em virtude de séria crise de “gota”, inflamação nas articulações que me impediam os movimentos com a agilidade necessária, não me foi possível acompanhar os amigos que se esbaldavam nas águas salgadas do Mar Morto.
Alguns banhistas flutuavam deitados. Não conseguiam submergir. Da margem, observei a dificuldade dos mais idosos, intentando levantar o corpo para ficarem em pé. As pernas subiam e o tronco afundava, sufocando a cabeça, mergulhada na água inóspita.
O Mar Morto tem esse nome devido à grande quantidade de sal, dez vezes superior a dos demais oceanos. As condições de suas águas impedem qualquer possibilidade de vida. Essa designação somente passou a ser utilizada a partir do segundo século da era cristã.
Ao longo dos anos, vários nomes lhe foram atribuídos. Em Gênesis 14:3 e Josué 3:16 é chamado de Mar Salgado; em Deuteronômio 3:17 e em Reis 14:25 é conhecido por Mar de Arabá; o escritor Flávio Josefo denominou-o Lago de Asfalto, enquanto o Talmude, um dos livros básicos da religião judaica, designou-o de Mar de Sodoma e Mar de Ló. A desobediente esposa desse personagem foi transformada em estátua de sal. Veja o que diz a Bíblia:
"E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal" (Gênesis, capítulo 19, versículo 26).
Margeando o Mar Morto, constatamos poços de água doce, próximos às margens. Incrível, esse fenômeno! Por que, a poucos metros do mar salgado, as águas dos tanques que surgem repetidamente são doces? Talvez, a resposta esteja no Livro de Ezequiel, capítulo 47, versículos 8 e parte final do 9, a saber:
"Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no Mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis (versículo 8); ... e, aonde chegarem estas águas, tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passar este rio" (parte final do versículo 9).
Por hoje é só. Da próxima vez, contarei mais sobre a viagem que fizemos à Terra Santa. Resta ao leitor aguardar. Não teria graça nenhuma se “soltasse” tudo de uma única vez. Concordam? Ademais, por ser curto, o texto não provocará nenhum cansaço a quem se dispuser a lê-lo. Até a próxima!