DONA DE CASA NÃO TRABALHA (?)

Há um ano estou desempregada. Mediante o fato, acabei tendo de cortar alguns gastos em casa, dentre eles o da minha secretária doméstica, que me vi obrigada a demitir.

Tornei-me desde então, “dona de casa”, titulo que já me atribuía antes, pois entendo que toda mulher, esposa e mãe, ainda que tenha profissão definida, incorpora à sua designação essa, com a qual nascemos predestinadas: ser “donas de casa”. Porém, não sabia eu, que assumi-la assim integralmente após trinta e um anos de trabalho fora, trar-me-ia ainda uma segunda condição. Descobri, entre uma queixa e outra do meu marido que eu “Não trabalho”. Como assim? Não trabalho?! Então estou a quase um ano, lavando, passando, cozinhando e fazendo faxina, (e olha que cada um quer suas coisas de um jeito lá em casa), e de repente eu não trabalho?!

Confesso que subi nos tamancos!

Não podia ser verdade! Meu marido estaria brincando, e eu, no meio da pequena discussão, que se tornou grande a parti daí, não havia compreendido o que ele expressara.

Mas suas tentativas de se explicar quando de minha indignação manifesta, foram ainda mais desastrosas: “Eu não quis dizer que você não faz nada, só quis dizer que, apenas eu trabalho agora, ou seja, apenas eu estou ganhando e arcando com todas as despesas, que dobraram”. Intimidava ele.

Tudo parecia ficar pior ainda. E não fazia o menor sentido para mim. Então, se eu assumi completamente a casa cortando de vez a parte da secretária, essa despesa não deduzia agora do orçamento? E meu trabalho, estafante por sinal, não fazia a menor diferença?

Tudo soava muito injustamente aos meus ouvidos, e não acreditava que via com meus próprios olhos, aliás, indignados, as declarações do meu marido, que por mais que tentasse se explicar, deixava cada vez mais claro apenas com algumas palavras mais amenas, que só ele trabalhava, só ele ganhava salário, e que eu, eu ajudava, mas não trabalhava.

Felizmente, nossa discussão não tomou rumos mais esquentados e após esclarecimentos(?), retomamos as vias da civilidade.

Mas questiono-me nestas linhas, tomando aqui as dores e vestindo a pele de todas as mulheres dignamente constituídas com o titulo de “donas de casa”: Será que mesmo após constituição, direitos iguais, e outras leis mais de direitos da mulher, estamos mesmo vivendo uma época de mudanças?

Após tal episódio continuo com minhas dúvidas. Mas em tempo vem a motivação que me alenta: Não podemos afrouxar as rédeas! Calar jamais! Nossa incumbência é dignificante e nosso trabalho, ainda que possa ser substituído, jamais terá nosso zelo e, modéstia à parte, nosso toque especial.