Senhora e a sua vassoura encantada

 
     O tempo passa, vamos avançando na idade, porém as nossas lembranças da infância permanecem sempre vivas. E por incrível que pareça até parecem estar mais nítidas na nossa memória do que as de um passado mais recente. Pelo menos comigo é assim. Aliás, eu sempre tive a capacidade de lembrar-me de pessoas e fatos que nem a minha irmã mais velha consegue lembrar. Também sempre gostei de observar em detalhes as pessoas e por isso, me tornei uma boa fisionomista.
     Hoje me veio a tona a lembrança de uma senhora que frequentava a minha casa quando eu era criança. Nunca soube ao certo qual o seu nome verdadeiro, mas, lembro que todos a chamava de “Senhora”. Esta era um velhinha que no meu imaginário infantil poderia muito bem assemelhar-se as bruxas dos contos de fadas, menos na personalidade, visto ser ela uma pessoa bondosa e simpática. Vez por outra Senhora aparecia lá por casa para varrer o nosso quintal. E aí é que estava todo o seu encantamento. Apesar de lá em casa existir vassouras de palha, ela preferia levar a sua própria vassoura, feita artesanalmente de
uma espécie de planta muito conhecida, que infelizmente eu não sei dizer o nome. Só sei que era uma plantinha muito comum que continha umas sementinhas, tipo bolinhas. A vassoura não tinha pau, sendo formada apenas por esta espécie de arbusto já seco e amarrado com corda. E embora os galhos fossem bastante compridos, ela ainda se curvava um bom bocado para varrer o chão. Entretanto, em questão de segundos o quintal ficava limpinho, sem nenhuma folha no chão. Lembro-me que os galhos de sua vassoura deixavam listrinhas na terra. 
     Senhora morava no “Beco da lama”, uma ruazinha estreita que terminava já no mato que dá acesso ao pé da serra da cidade de Patú. Sendo esta rua habitada por pessoas muito simples. Ela dividia a sua moradia com a sua irmã, uma velhinha baixinha chamada D. Candinha, que também, no meu imaginário infantil era a própria imagem da "senhora D. Cândida" ou "D. Canja" como assim costumávamos cantar nas brincadeiras de roda. A casa de Senhora apesar de simples, era bastante limpa,
no chão de terra  dava para percebermos que ela a varria diariamente, deixando as risquinhas da sua vassoura encantada... 




Acho que o arbusto era este mesmo, vassourinha.

Márcia Kaline Paula de Azevedo
Enviado por Márcia Kaline Paula de Azevedo em 03/07/2012
Reeditado em 21/07/2012
Código do texto: T3759004
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