A LÓGICA DE UM MATUTO

A lógica de um matuto

No ano de 1982, a televisão ainda era uma novidade em algumas cidades do interior. La no sítio onde eu morava, havia apenas duas TVs: uma na casa do meu pai e a outra na casa do meu avô, que ficava há aproximadamente quinhentos metros de distância.

Havia um vizinho meio distante que sempre vinha assistir televisão, mas como não entedia muito, conversava mais do que assistia e interrompia aquela platéia que não era tão pouca. Era tanta gente que, muitas vezes, se colocava a televisão no terreiro da frente quando a sala não cabia.

Pois bem, na Copa do Mundo, decisão do jogo entre Brasil e Itália, nós estávamos fazendo o apontamento da antena, o que não era fácil, pois o cano tinha mais de dez metros de altura e a antena media seis metros de comprimento. Neste momento, chegou o vizinho, o dito MANÉ XEBINHA, e quis dar uma sugestão. Ele presenciou nosso aperreio: dois em cima da casa ajustando a antena, outro na porta da casa conferindo quando a imagem estava legal, (muitos deles ainda perguntavam: o Brasí ta botano pra baxo ou pra riba?)e mais quatro, na cobertura dos cantos da casa, pegando cada um num arame para amarrar a antena depois de ajustada, quando a imagem desse para ver pelo menos a cor do jogador. Vale lembrar que no mês de junho e julho, no sertão, a ventania é exagerada! (matuto chama de cruviana)

Já quase na hora do jogo, tinha pra mais de oitenta pessoas no sol quente de duas horas da tarde e a imagem não prestava! MANÉ saltou do meio do povo e disse:

-JÁ SEI PRUQUE ESSA BICHA TA RIM!!!!!

Todos pararam para ouvi-lo, já que o coitado nunca era solicitado pra nada! Uns diziam “Senta Mané!”; outros diziam “Tu mesmo calado tá errado!”; outros mais pacientes diziam “Deixa o Mané falar...” Ouve-se, então, um silencio e Mané falou:

-ESSA BICHA PRA TÁ RIM DESSE JEITO SEU ZÉ... – dirigindo-se ao meu pai que, educadamente, esperava uma saída para assistir aquela final tão esperada, com seus amigos e vizinhos. – EU SEI!!

- Então diga! Meu pai parou e olhou para Mané, escutando com atenção.

- ESSA BICHA LÁ IN RIBA DA CASA SEM NINGUEM AVIGIÁ, SERÁ QUI NUM FOI O MUCÊGO QUE ACHUPÔ NÃO?

Com essa ideia absurda, Mané foi tão xingado pelos seus colegas, que saiu tristonho e foi assistir o jogo na casa do meu avô. Lá chegando, lhe deram uma cadeira na sala, bem no pé da janela. A casa estava vazia, não tinha tanta gente como na casa do meu pai. Ele assistiu o jogo e no final, ainda perguntou: SEU LUIZ! O QUE FOI QUE DEU, HEIM...?

Quando soube da derrota do Brasil, ficou nervoso, subiu na cadeira onde estava, pulou a janela e correu até a casa do meu pai, numa carreira só!

Quando chegou, o terreiro ainda estava lotado de pessoas. Cabisbaixo, triste com a derrota, Mané até assustou ao dar uma freada no terreiro e já foram logo perguntando: “O que foi Mané?” Ele respirou fundo e disse:

– FUI ASSISTÍ O JOGO LÁ EM SEU LUIZ – que era meu avô – MAI LÁ DEU AZÁ! O BRAZÍ PERDEU! E AQUI CUMA FOI? ELE GANHÔ?... kkkkkkkkkkkkkkk

Daí pra frente não precisa dizer mais nada... Coitado do Mané Xebinha!

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 26/06/2012
Reeditado em 22/01/2017
Código do texto: T3745615
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