Crônicas Terminais VI

Quando no fim da brisa da manhã, o sol nascer por inteiro, e o caminho estiver completo, vou poder voltar para a rotina de sempre.

Ficar no mesmo marasmo com aquele café requentado, o jornal velho e o pão amanhecido e as securas de uma ilusão perdida.

Seguindo vou vivendo essa sina de cristo reencenado.

Essa cruz que pesa no meu peito, que bate em mim quando tento alcançar voos mais altos.

Estou ficando velho, rabugento, ranzinza, hipocondríaco.

E o que fazer numa situação dessas?

Desisto...

Não acredito mais no que o coração diz, é triste, vulgar, insensível.

E eu termino a minha noite de volta ao tédio, de volta ao mundo real, onde tudo se torna palpável, ríspido, imundo.

Largo minhas fantasias, largo minhas ideias de uma vida melhor.

Me torno senhor de meus próprios sonhos, e isso é horrível.

Ainda não sou adulto, mas também não sou criança, sou sim uma coisa, perdido nesse meio de caminho.

Sou uma coisa...

Coisa que pensa, que fala, sente, tortura, beija e escarra.

Sou tudo isso, talvez mais, talvez menos.

E ainda estou aqui, sentado tomando meu café da manhã, não evolui nem cresci.

Sou toda a potência desperdiçada.

Tenho todos os segredos do mundo dentro da minha xícara de café, e eu sozinho aqui depois de ter brincado de deus.

Sou euforia confusa, desajustada, desfocada.

Preciso de uma nova inspiração, de uma nova... Emoção?

Estou liquidado, só espero não ter perdido meu tato.

Minari
Enviado por Minari em 24/06/2012
Reeditado em 24/06/2012
Código do texto: T3741479
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