Coisas sobre o tempo, sobre a morte ou sobre a vida - como queira
São dois os mistérios que o homem nunca conseguirá desvendar: o tempo e a morte. Por mais que se ande, por mais que a ciência avance no tempo e no espaço, por mais que se construam máquinas modernas, espaçonaves fabulosas ou máquinas humanas poderosíssimas com o avanço da clonagem...
Nada disso sobrepõe o mistério do tempo, da morte, pelo contrário, ele sempre esbarrará na dualidade do enigma TEMPO-MORTE e o que é pior, sem obter resposta alguma, porque esse permanecerá inalterado até o fim dos tempos. Quer dizer, como no início dos tempos (quando o homem vivia em cavernas e usava clava para atrair a parceira) até porque, o tempo não tem início, nem fim. Nós é que inventamos... Insistimos em medi-lo, marcá-lo, tudo pela ganância!
Dessa forma, o homem sempre esbarrará no tempo, na morte como algo que foge a vã filosofia e quando refiro-me ao tempo, digo que talvez esbarre num tempo, que nem seja o seu.
Há alguns anos atrás Eneida1 já dizia com um lirismo único: “morrer é chato”. Talvez porque, o mistério da vida seja muito maior do que o da morte, ou talvez porque, viver seja a mais difícil das tarefas; difícil porque exige coragem, determinação, raça, gana, fé, uma boa dose de teimosia ou seria valentia? E ainda diria mais... Exige também, uma boa dosagem de lirismo nas veias, não só isso, mas saber enxergar o mundo por outras lentes, outros ângulos... Ver não só a beleza visual, mas toda e qualquer beleza que desafia as leis da ótica.
Ou talvez porque, seja como diz a velha máxima: “pra morrer basta estar vivo...” Mas a vida é tão maior do que morte, a vontade de viver vai tão mais além... Mesmo com todos os percalços. E ao mesmo tempo é tão menor... Porque se pararmos para pensar, a vida é tão frágil quanto à pétala de uma flor (se morre de graça todo dia, nas esquinas, nas ruas da vida, nas favelas...) e nós, somos tão menores perante o universo, quão possamos imaginar.
E ainda que se viva ou se sobreviva, a morte continuará sendo o maior de todos os mistérios. Por outro lado, às vezes até para morrer é difícil... Requer tempo – há pessoas que passam anos em cima de uma cama, para só então morrerem – e elas? Qual será o seu tempo? E há aquelas que morrem sem tempo para terminar a grande tarefa da existência... “E é trágico demais morrer inacabado.” Dinheiro – há aqueles que como diz o ditado: “não têm nem onde cair morto” – e o principal, talvez a coisa mais importante: merecimento. Sempre ouvir dizer, que até para morrer a gente tem que ter merecimento... Se não, não morre! Fica “perambulando” por aí, vivendo uma vida dos diabos! (mas tudo bem, já que o inferno é aqui mesmo, assim o dizem).
Mas para quê tudo isso, se lá do outro lado da vida ou da morte (isto é, para quem acredita que haja outra vida depois dessa) não precisaremos de nada disso? Tempo, dinheiro, merecimento?
É... Quem sabe consiga entender ou pelo menos tente, talvez porque às vezes se viva, como quem já morreu, ou melhor, às vezes não vive-se, leva-se a vida com a barriga como se fosse um fardo. Em contrapartida, admiro as pessoas que levam a vida no bico... Como os malandros caricatos de qualquer bom filme de época, indiscutivelmente, esses sim... Sabem viver!
Nota:
1. Eneida de Moraes (Belém, Pa, 1903 – Rio de Janeiro, RJ, 1971), escritora e jornalista paraense. Iniciou-se na literatura com o volume de poesias Terra verde (1929). Nesse ano mudou-se de sua cidade natal – Belém do Pará – para o Rio de Janeiro. Colaborou no diário de notícias por vários anos, ao mesmo tempo em que desenvolveu intensa atividade política, tendo sido presa inúmeras vezes.