BRANCO É PRETO
BRANCO É PRETO 110.312
Branca é a cor do papel que começa a deslizar sob a pena, a ponta célere da caneta, procurando registrar naquele branco idéias clarificadas, etéreas, pacíficas, sublimes.
E para tudo isto vem o contraste de cores, a tinta preta que nada tem de tétrica.
A noite é escura, é negra numa noite em que a lua não reflete a sua luz. Nem por isto a noite desperta medo. Bem ao contrário, é a noite em que o saudável soldado vai repousar da árdua batalha que desfiou a cada instante de seu refulgente dia de trabalho, límpido e fecundo.
A guerra, esta sim, amedronta! Um camponês transfigura-se em soldado, o soldado eleva-se a general e no raiar do dia lá está o soldado-general, cumprindo estranhas ordens, acordando seus pupilos-soldados para que vistam suas encouraçadas roupas-brancas, verdes, azuis, de qualquer cor. Depois, a voz brada o comando: “Vamos, vamos à luta! O inimigo poderá ainda estar dormindo! Nós já estamos acordados!”.
Se esses inimigos de que se vangloria o soldado-general forem os pontos negros que todos os soldados têm dentro de si, então não se pode acordar tarde mesmo!
O general é general porque já entendeu que não se pode dormir nos pontos negros e que é necessário clareá-los. E nada melhor do que a própria luz solar que desponta de madrugada no horizonte para estampar brilho ofuscante naqueles pontos escuros! A cor sobre a cor. O preto sobre o branco. O branco sobre o preto.
O soldado a ensinar o general. O soldado a aprender com o general. O soldado-general a comandar suas armas naturais, não-mortíferas, mas geradoras de vida, contra todos aqueles inimigos internos e eternos, eternos que seriam se não houvesse o som de clarins a romper a madrugada anunciando a chegada do rei-Sol. Este que repousou à noite para haurir forças e luzes (isto para os que dormiram, porque, do outro lado, o sol estava aceso, não dormia). São 24 horas de trabalho por dia, é uma guerra eterna contra a escuridão que campeia onde não haja luz, nem mesmo a artificial.
Branco, preto, soldado, general, sol, lua, dia, noite – contrastes ou extremos naturais, os quais, em análise colorida de amor e paciência, não são contrastes. São pólos diferentes que se atraem ao pólo comum que os separava, quando os contrastes assim pensavam! Não há contraste, convém repetir, salientar com bastante incisão, para que se fixe o epicentro desta curta caminhada do preto sobre o branco. O branco andou sob o preto (já desde o começo). A luz está onde não está a escuridão, a escuridão não estará onde está a luz. Nem mesmo as sombras conseguirão perdurar se não houver um eflúvio de luz para produzi-las. O epicentro é centro épico que, por floridas que sejam as palavras, não há flores que se conservem em si mesmas para serem estendidas ao merecido caminho do Ponto Central. Ao contrário, foram espinhos. E os suportou.
Por que não haveriam os contrastes de entender-se uns com os outros, então? Centro do círculo circunscrito ao seu centro. Satélites em torno de seus planetas! Os filhos em torno dos pais e Pai!
O branco, desde o princípio, e é fato químico, resume a gama de todas as cores somadas e reflete, sobretudo, a PAZ, mundial que deve ser, sem guerras, contrastes.
Um dia eterno de não-contrastes...