Memórias de um suicida

Penso, logo desisto... Eu, filho

Bastardo da geração química,

Tive o dia, mês, signo e

Nome programado, nasci os

Dentes ingerindo conservante,

Aromatizante, acidulante,

Hormônios, todo tipo de veneno

Que nos vendem.

Eu que nasci besta modificada

Geneticamente, aos três meses

Já falava inglês, aos seis alemão

E chinês, aos dois anos campeão

Mundial de natação pela terceira vez.

Eu que nasci vendo tigres abocanhar

O mundo vendendo suas quinquilharias

De plástico com doses altíssimas de

Chumbo... Quente.

Eu que nasci pós guerra fria, e aqui

Vivo no anonimato, lutando uma

Guerra sanguínea incubada, abafada

Pelos mestres do universo.

Eu que nasci num tempo de paz

Que de paz guerra química se faz, ao

Menos nos tempos de Tolstoi a

Guerra era de facão.

Eu que nasci no país das grandes

Bundas e tenho que escutar apelos

Das putas deprimentes donas do mundo.

Eu que nasci estudando física quântica,

Matemática financeira e sobre a

Calculadora de mil dígitos babava noites

Inteiras, acordava com os números impressos

Nas bochechas e na testa.

Eu que nasci nos tempos faceporra

Que une as pessoas fraternalmente,

Cada qual na sua tela-suburbana,

Quem não curtir vira careta.

Eu que nasci nos tempos da piada

Onde se vigia casas dia e noite a procura

De uma cena sexo programado.

Eu que nasci com depressão; programado

Para vencer, caso não tem um canhão mirando

Minha cabeça eu mesmo apertarei o botão.

Autor Irineu Magalhães