Pivete
Ali estava ele, sentado observando os buracos que o tiroteio passado deixou na parede do barraco. Ali mesmo no morro do Borél. Adolescente, 15 anos de idade, filho de uma senhora viúva; O marido morreu vítima de uma bala perdida. Ganhando menos de um salário por mês, obriga seu filho a catar latinhas nas ruas da periferia.
A vontade de chorar só não é mais forte do que a fome que ele estava sentindo há dois dias. O ódio lhe corrompe a alma, pensa nas humilhações que os ‘boyzinhos’ da classe média costumam fazer com ele, só porque possuem motos, roupas de marca e celular...
Sim, estava decidido a pegar o ‘bagulho’ que os ‘caras’ lá da boca lhe ofereceram, quem sabe assim a vida melhorava um pouco, pelo menos deixaria de catar latinhas (...).
Levanta espantado! É mais um tiroteio. O tumultuo na rua é grande, parece que morreu alguém... Se aproxima do local e observa; o garoto de treze anos com uma bala na cabeça era seu amigo Marcos. Volta apavorado pro barraco. Decide não ir à boca, não quer acabar como vários malucos que morreram ou estão em cana por causa da maldita grana que está com a minoria de sempre.
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Crônica de autoria de meu irmão Everton Wilker.
Do tempo de colégio...!