CÃS
Ele ainda se julgava “inteirão” pros seus cinquenta e poucos anos. Bronzeado de praia, com as têmporas prateadas achava que ainda poderia abalar corações.
A mulher e os dois filhos viajaram para passar as férias no interior na casa dos avós e ele ficou sozinho pois não podia tirar férias naquela época do ano.
À tardinha, após o expediente, tomou um banho, fez a barba, perfumou-se, vestiu-se como um manequim da Hugo Boss e foi a um barzinho badalado à beira mar pra ler o livro “Os homens preferem mesmo as loiras?”. Só pra contrariar pediu um chope escuro.
Em uma mesa próxima sentaram-se quatro delas, cada uma mais bonita (- e gostosa- segundo seu pensamento) que a outra. Conversavam animadamente quando uma olhou pra ele e abriu um leve sorriso passando suavemente a mão nos cabelos, como um sinal bem conhecido por todos.
Em seguida ela conversou com as outras três que olharam pra ele ao mesmo tempo e sorriram também.
Ele olhou para um lado e para o outro e confirmou que a visão daquele monte de lindos dentes eram pra ele mesmo. Levantou a tulipa de chope como que brindado e elas todas sorriram novamente.
Pediu mais um chope pra tomar coragem... - é hoje - pensou.
Tomou de uma só talagada mais quatro chopes levantou-se e num ato de ousadia juvenil dirigiu-se à mesa das moçoilas.
A primeira se levantou, deu-lhe um afetuoso beijo no rosto e disse:
- Puxa tio... que bom... o senhor se lembrou de mim... sou colega de escola da sua filha Júlia...