No tempo das cartas...

Curtir a vida? Tudo bem! Mas que haja responsabilidade! Vejo grande parte da minha geração curtindo tanto a vida que acabam não sabendo valorizar certas coisas que julgo importantes na vida. Ah, faça-me um favor! O mundo real não é um facebook onde vivemos clicando em “curtir”. Compartilhar uma frase, uma foto na internet é tão fácil, tão prático. Antigamente, na época das cartas, quando não havia celular e internet as pessoas praticavam uma coisa chamada “espera”. Não sou contrário a tecnologia, pelo contrário gosto muito das vantagens que temos na atualidade, porém, parece que de tanta rapidez, praticidade e facilidade as pessoas perderam valores que precisam de paciência, de espera, para serem cultivados, tipo o romantismo!

Odeio frases do tipo “Fico com uma guria agora e se não der certo, que se dane! Não tenha problema! Tem várias outras por aí, nem me preocupo.” Poxa, é tão difícil começar um relacionamento com a intenção que ele dê certo? É tão difícil assim ou será que a rapidez que existe nas comunicações através de sms, e-mail afetou tanto as relações humanas que um ser humano não consegue mais ter paciência de cultivar um sentimento!? Prefiro nem responder, acho que basta prestarmos atenção nas músicas que fazem sucesso hoje em dia para percebermos isso! Coisas como “ai se eu te pego” são no meu ponto de vista uma clara evidência de que nossa geração quis crescer – e cresceu – tão rápido que se esqueceu de ter paciência, e trocou valores morais pela rapidez! Essa é a sina da geração do “fast-food”, daqueles que não tem o tempo para “parar” numa lanchonete com a família e comerem juntos, aí preferem optar pelo “drive-thru”. É claro que reconheço os benefícios que esse sistema de rapidez na troca de informações ou serviços possibilitam, agora levar isso para o lado dos relacionamentos humanos é o cúmulo! Para mim “pegada” é marca de tênis! E como já diria o pequeno príncipe: “Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem mais amigos.”

E daí se é o primeiro ou último relacionamento que alguém terá em sua vida por que não se pode se esforçar para que algo dê certo? Existe uma crença, que na minha opinião traduz-se em loucura de que da primeira vez que adolescentes têm um relacionamento este não precisa ser sério porque são jovens e ainda têm muita coisa para aprender e aproveitar na vida. E o pior é quando esses jovens tentam algo sério e depois resolvem jogar tudo no lixo ao encontrar o primeiro defeito no outro! Começa-se um relacionamento frente a frente num dia e no outro não se tem nem mais a decência de esperar rever a pessoa para terminar e envia-se um sms avisando que o “namoro” acabou. Ora, o ser humano pode melhorar! Pode amadurecer! Mas trocar de parceiro (a) a cada vez que se termina um relacionamento não garante que vá se achar a pessoa certa. Não gosto muito de falar sobre isso porque quando critico coisas desse tipo as pessoas pensam que me julgo perfeito, quando na verdade sou tão imperfeito e cheios de erros quantos todos, mas quero lutar por algo mais que “curtição”.

É triste, mas tanto eu quantos muitas das pessoas da minha geração, em sua maioria, são tão fracas para enfrentar a vida. E não falo de força física – se bem que até essa não exige mais “força de vontade” para se adquirir, basta apenas comprar e usar alguns produtos e como num passe de mágica (ou num envio de e-mail ou numa postagem de comentário no facebook) a pessoa fica misteriosamente musculosa! Ah que saudade do tempo das cartas!

Antigamente se esperava mais cada etapa da vida, a metáfora do tempo das cartas para mim lembra que a espera para receber uma carta fazia com que as pessoas aguardassem mais as etapas de cada coisa da vida, isso treinava a sua paciência ao contrário dos e-mails de hoje. Fico pensando em uma velha superstição que minha mãe contava: “quando sua mão começar a coçar é porque você está preste a receber uma carta”. Às vezes me pergunto se isso fosse verdade e valesse pros e-mails, sms e mensagens nas redes sociais o que não aconteceria com nossas mãos devido à quantidade de e-mails com spam, correntes e tantas outras coisas que nossas caixas de e-mails recebam a toda hora. Ah, minha infância nos anos 1990. Nostalgia de um passado que não foi glorioso e nem de longe a melhor de todas as infâncias possíveis que um ser humano poderia ter. Foi apenas a minha infância, e de tantos outros, por isso me deixou lembranças boas e saudades. Enfim, é evidente que o tempo do uso de cartas já passou há muito tempo, mas ainda acredito que nem por isso precisamos perder o romantismo, a magia da espera, que havia na época que os jovens “trocavam cartas” e buscavam cativar uns ao outros compartilhando momentos da vida, ao invés de cantar “ai se eu te pego”...

Du amor
Enviado por Du amor em 25/02/2012
Reeditado em 25/02/2012
Código do texto: T3518443
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