A PRIMEIRA NOITE DE UM CÃO

Tenho dois Poodles, Bidu e Chopinho, pai e filho, um de cinco anos e meio, outro de três e meio. Chopinho foi o sobrevivente de uma ninhada de quatro filhotes, que Bidu encomendou numa visita a Torres junto a uma cadelinha também de origem local, pulando pela janela do automóvel do meu cunhado, tão logo chegaram na casa do sogro. No dia dos namorados, minha mulher mandou importar o filhote para me fazer um agrado e companhia ao Bidu, no apartamento em Porto Alegre, talvez mais com vistas ao segundo objetivo. Chopinho entendeu desde cedo que precisava demarcar espaço ou eventualmente registrar protesto e tem sido difícil conter o seu arroubo mijão, que, algumas vezes, vai do abajur sobre meu criado-mudo, do porta-retratos, à telinha do computador, que já precisei mandar trocar. Mas eu sempre me neguei a castrá-lo: seria quase uma automutilação e uma baita sacanagem com o bichinho, apesar de algumas opiniões em contrário. A questão é que Chopinho vinha se preservando virgem, excitando-se apenas com o aroma provocativo das cadelinhas no cio, que exalam seu assanhamento pelos mesmos jardins e ruas em que ele passeia. Há um tempo atrás, porém, foi um dia especial e grandioso para todos: uma simpática vizinha de prédio próximo convocou Chopinho para passar a noite em seu apartamento, pois sua cadelinha Poodle estava no cio e o meu cachorrinho fora o escolhido para a lua de mel. Ao fim da tarde, levei o cãozinho assustado para os braços da vizinha. Inquieto, pedi que minha mulher ligasse à noite para saber como estava evoluindo o processo de adaptação. A informação foi boa, estavam brincando, correndo e rolando pelo apartamento, mas a consumação do congresso carnal ainda não se dera, eis que muito longas as preliminares. Não preciso dizer que fiz questão que Chopinho ficasse ainda mais um dia na casa dela: a vizinha não só concordou, como entendeu que seria bom para o jovem casal que curtisse a privacidade, pelo que ela passaria algumas horas fora de casa, oportunizando liberdade plena ao florescimento do amor canino.

O desfecho foi inconclusivo, mas o certo é que a cadelinha não embarrigou e até já foi esterilizada. Brochar ele não brochou, aposto minhas fichas, talvez tenha consumado fora, usado camisinha ou a cadelinha era muito "fazida", arisca, sei lá. A vizinha disse que só brincaram, mas arreto também é brincadeira. Minha mulher sustenta que Chopinho deve ter sido efetivo e pode não ser fértil, já que só tem uma bola. Aceito qualquer explicação, só não difamem meu cachorro. Espero que eu possa descobrir em breve uma casa de tolerância para cães, porque ele anda carente: quem sabe não encontre sua cara metade? Afinal, talvez seja um cão romântico, sonhador. Vida de cachorro não é tão fácil assim e a primeira vez é complicada para qualquer um.