Castelos de Papel
Não me sinto apta a falar da tragédia que foi o desabamento dos três prédios no centro do Rio, embora conheça tanto a região. Aliás, havia estado, em deles, na semana anterior. Não vou entrar no mérito da falta de atitudes gestoras (pois leis há demais) que sempre roubam vidas e – parece – que nada se aprende com isso. Oro por todos os que foram, como também por aqueles que se arriscam, sem saber, em uma Cidade “Maravilhosa”, mas, como tantas, vítimas do “vamos fazer”; “vamos fiscalizar”: “assim não pode continuar.”
Chamou-me atenção uma entrevista que ouvi em uma emissora de rádio. Uma senhora, moradora de um prédio em frente, testemunhou o ruir dos edifícios, e, por isso, foi obrigada a ficar, por algum tempo, longe de seu pequeno apartamento.Ela vende de tudo e diz que sua renda gira em torno de um salário-mínimo. Sorridente, é, em minha opinião, uma constante ponte a nos conduzir à verdade de cada dia. Um belo exemplo, mostrando que – com pouco – pode-se fazer crescer a paz, a alegria e um bem-estar único, que muitos que ganham milhões (ou mais) talvez nunca cheguem a ter.
Não é dela, porém, que quero falar. Interessou-me o catador de papéis a quem ela se referiu. Conhecia-o perfeitamente. Pelo que disse, esse homem era bem diferente, além de ser uma das vítimas que partiu, posto que se abrigava sob a agência de um banco que também desapareceu.
Esse morador de rua que, segundo a entrevistada tinha família, vivia de restos dos ricos. Seu desafio, de mãos nuas, e vestido de andrajos, era coletar papel. Sua conquista - a maior – era a de papelões. Com seu carrinho, lotado, ele inventava cada um de um seus dias, interagindo, desvelando possibilidades de sempre arrecadar mais. Um muro o cercava: o frenesi e o fascínio de guardar dinheiro. Não desperdiçava nada, a tal ponto de ser um correntista representativo do banco que desabou.
Dentro do muro em que a vida o colocou – pois a ninguém, tampouco a mim, cabe julgá-lo – ele sonhava com a hora de deixar aquela vida. Claro que não posso penetrar seus sonhos. Não sei o tempo em que nasceria a flor que o teria tirado daquele local. Apenas sei que, já, em alguns fins de semana, ele tomava banho, arrumava-se e saía de seu muro. Gostaria de tê-lo visto, envolvido por essa alegria, com um novo olhar na alma. No entanto, só uma lágrima de dor e uma oração posso a ele ora entregar, no regato cristalino onde deve estar.
Por que não rolou antes, no teu olhar, catador de papel, outra estrela que te faria já louvar a Deus? Por que tiveste tanto medo de logo abandonar o teu ofício?
Hoje, sabes que o castelo com que sonhavas também era papelão e desabou!
Tenho, porém, a certeza de que sobre ele uma nova flor se abriu e onde estás, sem medo, vês os domínios do maior de todos os castelos: o Amor de Deus!
Chamou-me atenção uma entrevista que ouvi em uma emissora de rádio. Uma senhora, moradora de um prédio em frente, testemunhou o ruir dos edifícios, e, por isso, foi obrigada a ficar, por algum tempo, longe de seu pequeno apartamento.Ela vende de tudo e diz que sua renda gira em torno de um salário-mínimo. Sorridente, é, em minha opinião, uma constante ponte a nos conduzir à verdade de cada dia. Um belo exemplo, mostrando que – com pouco – pode-se fazer crescer a paz, a alegria e um bem-estar único, que muitos que ganham milhões (ou mais) talvez nunca cheguem a ter.
Não é dela, porém, que quero falar. Interessou-me o catador de papéis a quem ela se referiu. Conhecia-o perfeitamente. Pelo que disse, esse homem era bem diferente, além de ser uma das vítimas que partiu, posto que se abrigava sob a agência de um banco que também desapareceu.
Esse morador de rua que, segundo a entrevistada tinha família, vivia de restos dos ricos. Seu desafio, de mãos nuas, e vestido de andrajos, era coletar papel. Sua conquista - a maior – era a de papelões. Com seu carrinho, lotado, ele inventava cada um de um seus dias, interagindo, desvelando possibilidades de sempre arrecadar mais. Um muro o cercava: o frenesi e o fascínio de guardar dinheiro. Não desperdiçava nada, a tal ponto de ser um correntista representativo do banco que desabou.
Dentro do muro em que a vida o colocou – pois a ninguém, tampouco a mim, cabe julgá-lo – ele sonhava com a hora de deixar aquela vida. Claro que não posso penetrar seus sonhos. Não sei o tempo em que nasceria a flor que o teria tirado daquele local. Apenas sei que, já, em alguns fins de semana, ele tomava banho, arrumava-se e saía de seu muro. Gostaria de tê-lo visto, envolvido por essa alegria, com um novo olhar na alma. No entanto, só uma lágrima de dor e uma oração posso a ele ora entregar, no regato cristalino onde deve estar.
Por que não rolou antes, no teu olhar, catador de papel, outra estrela que te faria já louvar a Deus? Por que tiveste tanto medo de logo abandonar o teu ofício?
Hoje, sabes que o castelo com que sonhavas também era papelão e desabou!
Tenho, porém, a certeza de que sobre ele uma nova flor se abriu e onde estás, sem medo, vês os domínios do maior de todos os castelos: o Amor de Deus!