JOELHOS VERGADOS
Fátima Irene Pinto
Ele debruçou-se inseguro na janela de suas ilusões,
indócil com o vai e vem de muitas dúvidas e questionamentos,
fragilizado com os seus momentos de depressão, desses
que parecem apagar toda e qualquer luz ou esperança,
confuso com a alternância de contraditórios sentimentos,
vendo ruir até mesmo as crenças e os valores
que lhe pareciam tão sólidos e definidos.
Um dia ele veio a saber, bastante surpreso,
que naquele tempo em que
ele teve tantas dúvidas e sentiu tanto medo,
quando considerou-se um inútil fracassado
e quando tão poucas certezas ele teve sobre tudo,
exceto da própria miserabilidade,
foi justamente quando ele esteve mais próximo da verdade.
Foi quando o "Supremo" acercou-se dele
com delicadeza extremada
e fez morada no seu coração de menino.
Ele não sabia, mas era a primeira vez em toda a sua vida
de vaidades, de mundanos apegos e ilusões,
que ele estava completamente desamparado e desarmado.
E ao desarmar-se, ao diluir-se na própria dor,
ao reconhecer sua própria e imensa fragilidade,
ao constatar a sua profunda necessidade
de celestial amparo, ele finalmente
vergou os joelhos e gritou:
Deus!
Descalvado
21/10/2010