Ainda temos tempo

O caríssimo leitor pode se perguntar, o que há de bom, de positivo em uma viagem onde o percurso é deveras curto, mas pelas mazelas que presenciamos, frutas oriundas do descaso daqueles que insistem em adentrar ao cenário político, acabam por remeter os pacatos cidadãos a uma verdadeira jornada, resumindo, a trajetória que deveria durar uma ou duas horas, acaba por se prolongar em mais de oito horas de viagem.

Mas esta foi uma viagem gratificante, estávamos eu tia Ione, tia Mazique, a prima Cima e a prima Rosi.Tia Ione é ótima e confesso que sem as sua tiradas certeiras e impregnadas de um bom humor que beiram o sarcasmo, jamais teríamos suportado, tia Mazique, esta presente, nas mais longínquas lembranças da minha infância, morávamos a menos de uma quadra de distância, prima Ercimar, nem se fala, crescemos juntas, claro que eu sempre admirando sua loirice absurda e que hoje confesso, causava uma certa inveja, eu de pele escura e constantemente sendo alvo de piadinhas sem graça na escola, o que hoje chamam de bullying.,

A surpresa aqui esta, na figura da prima Rosi, e creio que da mesma forma, ela se surpreendeu em relação a minha pessoa, sempre fomos distantes, e a distância, acaba por gerar certas verdades, totalmente infundadas. Rosi via na minha pessoa a mesma pessoa que eu sempre acreditei existir nela, ambas estávamos enganadas.

O fato é que durante estas oito, nove horas, conheci minha prima Rosi e nunca fui tão grata a políticos omissos, como sou agora, foi e total incompetência deles que me permitiu realmente conhecer uma pessoa que apesar de tão próxima no parentesco, tão distante em termos mais profundos. Uma pessoa bem humorada, simples e exatamente o oposto do que meu juízo de valores concebeu, em nenhum momento daquele congestionamento horrível, eu me senti irritada ou arrependida de estar ali, ao contrário agradeci a Deus pela oportunidade de conhecer um ser humano, que jamais teria conhecido realmente se não fosse a rodovia não duplicada.

Já faz algum tempinho que este fato ocorreu, e devido a falta de tempo, grande inimigo do ser humanos desde o advento da revolução industrial, e que cada vez mais cria distâncias entre as pessoas. Fato é que, somente agora estou tendo a oportunidade de escrever sobre o mesmo, mas uma verdade aqui é a inquestionável,a lógica desta nossa existência. Quantas vezes, passaram por nós pessoas que julgávamos conhecer e ledo engano, nunca fomos capazes de captar sua real essência, cabe aqui o sentido de tudo isto, e como levantamos muros entre nós e as demais pessoas, dividimos, separamos, como o muro de Berlim, e nesta mesquinha e demente divisão, perdemos, e como perdemos o real sentido de estarmos vivos, como dizia o magnífico especialista em mitos Joseph Campbell, "o enlevo de estarmos vivos".

Hoje, sou mais feliz, sim, por mais que digam que isto é piegas ou sei lá o que, mas sou feliz por não ter passado por aqui, por esta existência sem realmente conhecer minha prima!

Demorou, mas encontrei uma coisa positiva no inegável desleixo desta classe corrupta, de nossa terrinha Brasilis, em deixar sempre para depois, coisas que urgem, pois graças a isto, tive tempo para conhecer Rosi, como ela é, ou seja, quer melhor ocasião para conhecer alguém do que em uma adversidade?

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 29/01/2012
Reeditado em 29/01/2012
Código do texto: T3468767