Crônica sem título

Fazia muito tempo que não adentrava neste espaço, e justamente pela falta deste, o tempo, não que durante este período, coisas lamentáveis, bizarras e absurdas tenham simplesmente deixado de acontecer. Ocorre que hoje particularmente, me vi diante de histórias, fotos, que expressam a total incompetência deste estado, que como Renato Russo, costumava cantar "não é nação". Assistir pessoas sendo retiradas de suas moradas, para que se cumpra a lei! Mas que lei? De que lei falam?

Por acaso o Brasil é um país onde as leis são respeitadas e cumpridas?

Sim é, quando se trata do povo, aquele povo que as colunas sociais desconhecem, fingem se tratar de extras terrestres. Dentre tantas fotos que observei no dia de hoje, escolhi uma, onde se vê um homem, de nome, José Francisco dos Santos, segurança, que poderia ser um João, um Antônio, ou qualquer um dos que integram a massa de despejados.

Na foto, seu José, conversa com uma sei lá o que, a notícia diz ser a mulher uma oficial de justiça, não importa que parte do poder ela represente, importa a "cara de paisagem", enquanto um homem aviltado em sua dignidade tenta lhe contar, que o prazo para demolição ainda não havia vencido e que ao chegar em sua casa, para retirar seus poucos bens, deparou-se com tudo em ruínas.

E agora José? diria Drummond!

A casa foi demolida, seus pertences já não existem mais, sua dignidade tampouco, sua mulher chora desesperada!

O que esta ocorrendo no estado de São Paulo, faz-me recordar de uma certa política, a do Bota a Baixo, que o prefeito Pereira Passos colocou em prática na cidade do Rio de Janeiro, com objetivo de urbanizar, deixar o trópico um pouco parecido com a Paris, para tal intento, cortiços foram demolidos da noite para o dia, uma multidão sem ter para onde ir, desprovidos de uma política pública que os colocasse em locais dignos, recorreram aos morros, e assim surgem as favelas. Mas isso faz parte de um passado, mas não é curioso como a história se repete, por vezes é cíclica, da voltas e mais voltas e estamos hoje aqui, século XXI, assistindo via internet, a tragédia de famílias inteiras, dormindo em bancos de igrejas, no chão, e mães tendo que buscar um sorriso tirado talvez da própria tragédia, para que seus filhos não percebam o horror de tudo isto.

Enquanto isto, a vida segue, celebridades se preocupam com que roupa, ou com sem roupa irão desfilar no carnaval, outros dão dicas de como deixar seus cabelos mais lisos, e existem ainda os que postam comentários sobre o tal do BBB, ou da tal garota que voltou não sei da onde!

Ora façam o favor, onde chegamos? Ou será que nunca saímos de lugar algum!

Julia Lopes Ramos
Enviado por Julia Lopes Ramos em 24/01/2012
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