Única tentativa de diário
Eternamente desconhecido, escrevendo canções no meio do mato. Eu gosto disso. E além de gostar, eu preciso.
Desde criança invento canções a esmo, sem me preocupar se alguém algum dia irá ouvi-las. Algumas músicas minhas já são conhecidas por um público bem restrito. Adoro, sinceramente, ouvir as pessoas as cantando. Sinto um prazer profundo em saber que algumas criaturas se identificam com minhas idéias feitas de contradições. Vida e morte. Amor e ódio. Saudade e presença. Esperança e suicídio.
Mas, mesmo se ninguém ouvisse minhas canções, eu continuaria as fazendo. Como continuo escrevendo, sem me importar com leitores.
Tenho 29 anos e já escrevi tantas músicas, poemas e livros inacabados que, realmente, é impossível me lembrar de todos. Mas tudo que escrevi foi com uma tinta que cheirava a sangue. Muitas vezes sem muita vontade. Sem utilidade. Mas sempre com uma necessidade que, na minha visão, não tem nada a ver com espiritualidade, genética, quotidiano, saudade ou eteceteras. E ao mesmo tempo tem a ver com tudo isso. Eu, como mundano que sou, não sei.
Honestamente e, por favor, sem querer parecer esnobe; mas nunca me senti tão criativo e com tanta força vital para as artes em geral quanto agora (16/07/2007) . Mas, também, nunca me senti tão só e isolado em termos de identificação com pessoas criativas e imaginativas (02:52 madruga).
Estou ao redor de algumas poucas pessoas muito criativas e imaginativas, mas para elas as artes são coisas secundárias e desimportantes. Não as desmereço, pois é verdade que as artes são inúteis. Mas, eu quero olhar na profundidade de tuas pupilas e te perguntar:
- Qualé ?
- O que, realmente, importa ?
“Ao som de The Byrds: Wild mountain thyme”
DOIS MESES DEPOIS (18/10/2007)
Agora, lendo o que escrevi neste texto acima, me sinto como se houvesse sucumbido. Já há certo tempo me sinto sem inspiração e, o pior de tudo, sem criatividade, pois que a inspiração nunca foi algo no que me fiei. Mas não joguei a toalha, nem tampouco me preocupo muito com isso.
Estou ouvindo sons e lendo livros mais do que nunca; talvez por isso não encontre tempo nem muita vontade de criar nada. Sem falar que estou bebendo mais que nunca.
“Ao som de Iggy Pop: Lust for life”
TEMPO, TEMPO, MANO VELHO (25/01/2008)
Aqui estou eu de volta a este diário.
Mas desisto.
“Ao som de Jesus and Mary Chain: Halfway to crazy”