A Morte de um Porco
Animal, recluso, em um chiqueiro. Tornam seu ambiente sujo, para nomeá-lo porco. Cresce entre quatro paredes, alimentando-se de restos, reciclando o orgânico com árdua serventia. Engorda, tornando-se obeso. Seu crescimento é para um propósito. Sua saúde representa a morte. Um dia chega o momento. Entra um grupo, o animal rosado pressente, se agita. Tenta fugir em disparada. O espaço diminuto. Lançado ao solo, imundo de sobras de lavagem. Os homens seguram com violência, botas tirânicas pisam sobre suas patas, estalam seus ossos. Mãos que seguram com força seu focinho. Mesmo assim ele grita. É um grito forte, que faz todo e qualquer ser se compadecer do seu sofrimento. Chega o matador, crava o punhal afiado no peito, em ataque preciso ao coração.
O porco sufoca em lamento. A respiração entrecortada, percebe-se que escorrem lágrimas dos olhos. Mesmo não compreendendo a linguagem desse tipo de animal, o sofrimento é universal, sinto sua agonia, sou bicho também torturado, porco de alma com coração perfurado. Não grita mais, só saem suspiros de agonia. O corpo amolece, o sangue vaza pelo ferimento aberto. Amparam o sangue com uma bacia, já não usam mais da violência de subjugar, apenas aguardam em calmaria os últimos espasmos. O animal chora, a lágrima misturada ao sangue, às fezes, à lavagem, ao suor dos algozes. Em um suspiro, falece. Os olhos ainda vidrados. Queimam o pelo. Cortam as camadas de pele, separam as porções de carne, mais sangue com as costelas quebradas e abertas, os órgãos separados em porções. Era rosa, ficou branco pálido, depois vermelho sangue.
A refeição está garantida, nada mais de choros, apenas degustações. A cabeça decapitada contempla o espetáculo glutão. Cada um dos seres em apetite, terão uma fração do porco em si, compartilharam da violência, irão digerir seus remorsos, em orgânicos destroços. A inocência inexiste nesse espetáculo fúnebre. Se o câncer não vingar o porco, os vermes o farão, o que come hoje será comida de amanhã.