Dia de Merda
Em meio a um show, o sujeito sentira uma pontada no estômago, dirigindo-se imediatamente ao local mais próximo. Um bar. Fila para ter acesso ao sanitário. A tensão psicológica aumenta a agonia, a dor evolui. É chegada a vez do desesperado. Adentra o banheiro com valentia. Abaixa as calças, descarregando tudo que o oprimia. Relaxa após o estresse de outrora. Nem se incomoda com o aroma, nem mesmo com as questões de higiene. Já que sentara em assento público, a angústia não fazendo com que tomasse medidas preventivas, sentara de uma vez, com pressa. A necessidade foi maior que a prudência da racionalidade.
Pensa que a fila deve estar aumentado do lado de fora, já não existe mais o que despejar. Aperta a descarga, mas não funciona. Sente insatisfação. Olha para o lado, nem um resquício de papel, nem mesmo um cesto de lix onde pudesse aproveitar qualquer sobra, ou mesmo contemplar os felizardos que tiveram acesso ao que lhe faltava. Na privada, nem tivera tempo de olhar, por falta de água, deveria estar repleta de dejetos, embora a urina constante sirva para escoar. Uma coisa percebera, o lavatório ficava do lado de fora, sem recursos hídricos.
Já escuta batidas na porta, retira os sapatos, puxando as calças bela bainha. Livra-se da cueca. Faz dela seu absorvente, limpando as fezes, dobrando várias vezes para aproveitar ao máximo o tecido. Levanta-se, veste as calças, abotoa a fivela do cinto, calça os sapatos. Olha para a privada, o fundo lotado, como supusera. Agora o novo dilema. Como livrar-se da cueca? O olhar perscruta o ambiente, encontro acima de sua cabeça, uma fissura no forro. Sua estatura permite alcançar, aconchega a cueca no teto, de forma velada, ao som de batidas insistentes.
Abre finalmente a porta, vai ao lavatório lava as mãos. O próximo da fila entra. Da mesma forma que penetra o ambiente, se retira, procurando o último utilizador, lançando um olhar reprovativo pela cena dantesca visualizada. O autor, depois de um dia de merda, constrangido, não se importa mais. Volta a molhar a garganta com sofisticado aguardente, evitando os aperitivos mais bombásticos, na esperança de aproveitar o restante da noite, sem maiores embaraços. A calça vez o outra roça o meio das nádegas, a sensação de pênis solto dentro das calças é singular, mas passara o mal estar estomacal, agora só lhe resta relaxar.