O PASSAGEIRO, A FILA E O SISTEMA

Amanhece o dia em nossas metrópoles megalomaníacas, de estrutura caótica, tal e qual o sistema que nos governa (ou desgoverna?). Entenda-se aqui por metrópoles as grandes capitais e médias cidades deste país chamado Brasil, que, se não cuidarmos terminará por trocar o “s” pelo “z” tamanha é a imposição do consumo ditada pelo mercado mundializado, operado pelas grandes corporações transnacionais...

Mas voltemos ao meu raciocínio original. Nem bem amanhece o dia, milhares e milhares de trabalhadores iniciam sua saga cotidiana para chegar no local de trabalho. Sufoco e empurra-empurra nos terminais de linha, chamados oficialmente de Terminais de Integração. Infelizmente, o nosso oficialato dirigente não sabe o significado da palavra integração. Das seis às sete, hora do “rush”, cena de centenas de trabalhador@s, que vão chegando feitos formigas e se enfileirando à espera (ou a espreita?) do ônibus, programado engenhosamente para transportar seres humanos como se animais fossem, dada a superlotação imposta pelo sistema que acumula lucro e desrespeito. Que sistemas são estes? Sistemas de transportes ou sistema capitalista? Podemos dizer: as condições dos primeiros são subproduto do segundo.

O ônibus chega. A fila se confunde com o iminente tumulto dos que não aderem a mesma. Começa a primeira batalha; passageiros que embarcam e desembarcam ao mesmo tempo, fila que tem o mesmo valor e eficácia de algumas leis “inteligentes” elaboradas por alguns parlamentares (que até juristas são) para justificar mandatos burgueses, eternos viajantes das causas populares e condutores da injustiça social. Quase tudo é “faz de conta”: a fila, as leis, o salário, assim como a aparente igualdade e “normalidade” verificadas no ato de viajar pendurado e apertado até chegar ao local de trabalho, todos os dias úteis, começo e fim do expediente, preocupado em chegar na hora, uma vez que há muitos noutra fila que se chama desemprego...

Num quadro como esse, não é de admirar a cena que se sucede à chegada do ônibus. Pessoas até impassíveis, assumem um instinto animal, muito parecido com outros animais brigando pela comida que lhes é lançada. Cenas que remontam à idade da pedra, ao homem das cavernas. Crianças, idosos e até mulheres grávidas, não tem para ninguém! Vence quem for forte e determinado esta competição melancólica, sem prêmio, sem medalha e sem sorriso. E neste caso, ser forte e determinado significa descer ao fosso da mediocridade; ah, se tanta energia desperdiçada fosse usada para transformar este estado de coisas!

Na verdade, os vencedores vão sentados e os vencidos vão em pé, pendurados e quase esmagados uns pelos outros, porém, todos oprimidos pelo sistema que gera a desintegração dos valores básicos da boa relação humana.

Esta cena corriqueira e banal, denuncia e nos interpela a respeito dos estragos que o sistema sócio-político e econômico vigente provoca no ser humano. Que sociedade é esta mesmo? Para onde estamos indo? Que caminhos devemos trilhar para sairmos desta encruzilhada?

É preciso construirmos saídas.