VELHO

De uns tempos para cá, tenho ouvido com certa freqüência a afirmativa de que, em se tratando de pessoas idosas, o termo “velho” deveria ser banido definitivamente da linguagem coloquial.

Evidentemente, o termo não tem uma leveza prazerosa, mas não vejo motivo para tanta aversão. Ora, a palavra velho é sinônimo de idoso é a pessoa avançada em anos; e idosos ou velhos, infalivelmente todo ser humano é ou ficará algum dia. E isso é bom, pois a vida oferece oportunidades incríveis e maravilhosas de conhecimento, os quais, não seria possível ser angariados em curto espaço de tempo. Relembro aqui o pensamento de Leonardo da Vinci: “dêem-me tempo e farei milagres”. O grande sábio que tanto fizera em vida, acreditava tanto no potencial humano que julgava ser possível até mesmo realizar milagres, se a vida lhe fosse um pouco mais longa.

Com o meteórico e incrível avanço da medicina, que vem estendendo a senilidade para além dos cem anos, dizer que um homem ou mulher que conta sessenta anos de vida é velho ou velha, para mim é motivo de riso. Quando isso ocorre, eu penso tratar-se de um modo carinhoso e hilariante de referir-se a alguém que merece aplausos por já ter vivido mais de meio século, ultrapassando obstáculos, adquirindo experiências e, entre alegrias e tristezas, deixando exemplos para os mais jovens.

Sobretudo, convenhamos, há algum sentido em se iludir e desejar iludir aos outros negando uma verdade quase sempre indissimulável?

As pessoas mais belas são aquelas que sabem dar tudo de si a cada fase da existência, convictas de que tudo tem seu tempo e vivendo intensamente cada momento presente, entregando com perfeita confiabilidade o seu futuro às mãos de Deus, para que o envelhecimento ocorra naturalmente e com galhardia, sem as névoas sombrias de amarguras inúteis.

Felizes aqueles que conseguem fazer com que os seus projetos feitos na jovialidade possam tornar-se realidade na agudez da idade, e, contemplando com alegria no olhar, trazendo nos traços perfeitos das rugas toda a paz de suas vísceras, dizer com entusiasmo que não tem sido vã a poesia da sua existência. E tais palavras só podem ser ditas com garbo e maior autoridade, por quem já se tornou, felizmente, um velho com galhardia.

Antenor Rosalino
Enviado por Antenor Rosalino em 29/10/2011
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