Horário eleitoral gratuito
Esta é a época oportuna para analisar a sociedade na qual vivemos; para pensar no nosso município como um organismo vivo feito de órgãos propulsores e não um robô ou um boneco ventríloquo, que é a forma mais conhecida e que tem parecido ser a única.
Esta é a época de demonstrar o desconforto que sentimos ao vermos portas fechando-se em nossas caras, e tendo consciência que esta casa é nossa e não apenas um hotel alugado por quatro anos.
A vida social, a convivência, o diálogo, se fazem todo dia, não apenas naquele período conveniente à interesses que, definitivamente, não são sociais.
Neste período (agora), eles alugam imóveis nos quais depositam seus panfletos, seus abraços sinceros, suas ocupações de sorrisos cheios de pretensões vis. Eles agora lembram de uma calçada a ser feita, de uma vida estudiosa perdida, de um rim doente, de um imposto a ser bem utilizado, de uma sujeira indecente que foram os outros que deixaram, dos botecos onde pais de família acampam,
da juventude ociosa e violenta, do dente podre que dói, do buraco em frente a casa de sobrenome, da casa triste caindo onde roncam apelidos sem importância.
Esta é a época de cobrar destes olhos a visão. É a época de cobrar destes ouvidos a coerência de ouvir tudo e filtrar, sem a violência dos ignorantes, o que é bom para todos. Por conseqüência vai ser bom para mim e a minha família. É a época de ter tato para não se deixar ser molestado e saber usar a mão, não apenas para se defender, mas para empurrar ladeira abaixo aqueles que com patas de ouro impedem que todos permaneçam na mesma planície ou planalto. É a época de notar que família não é só aquela que tem parentesco com a tua porra, mas todos aqueles que produzem porra, trabalham a porra em seu ventre, estão nos postos de saúde pela porra ou simplesmente esporram. Não riam. Se você pega um ônibus, esbarra em mendigos, beija sua namorada, bate ponto na empresa, bebe cachaça no bar ou grita impropérios contra nossas condições miseráveis, tudo isto é por causa da porra.
Desconfie sempre daqueles que te oferecem amizade de gengivas expostas ou palavras administrativas (livros de auto-ajuda ambulantes). Gostar de conhecer e conversar com pessoas é uma coisa, outra é fazer isso conforme o clima. Acredite que aquelas pessoas sinceras e honestas consigo mesmas são as únicas que poderão fazer desta merda de mundo um lugar um pouco melhor (eis aqui meu dom para escritor de livros de auto-ajuda). Provavelmente estas pessoas, muitíssimo raras, são aquelas leprosas, pobres de espírito, sonhadoras e potenciais hóspedes de manicômios; mas este mundo é tão incoerente e a convivência é tão falida, que precisamos inventar outras formas de diálogo, de trabalho, de doenças úteis. Precisamos mudar tudo e só manter o sexo e o futuro.
Não desista de ser uma criatura real, de ser um verdadeiro ser que sabe que vai morrer, de ser um insignificante inseto cheio de deslumbramento, de ser um micróbio enfeitado para o desconhecido.
04/09/2008 (Quase véspera de eleição municipal)