Solidão em rede

As redes sociais na internet, que ganharam força no Brasil nos últimos cinco anos, já são motivos de muitos debates acadêmicos e certamente serão temas de estudos nos mais diferentes enfoques. Um dos mais cobiçados envolve as entrelinhas desta nova forma de relação interpessoal.

Dia desses, utilizando exatamente um dos canais de maior sucesso entre as redes sociais - o Facebook, iniciei uma conversa sobre o tema com o amigo de infância e conterrâneo Vanzye Fargom. Nós, que tivemos o privilégio de conversar muitas e muitas vezes em nossas casas, em bancos de praça, barzinhos e em tantos outros cenários reais, hoje dependemos do universo virtual para nos encontrar. Nosso último encontro aconteceu há mais de três anos em nossa cidade natal. No entanto, temos contato quase diário via e-mail e redes sociais.

Vanzye, que mora em Salvador, onde atua como músico e professor de História na rede municipal, vem levantando uma questão importante entre seus alunos adolescentes: a solidão estabelecida também nas redes sociais. Em nossa recente conversa ele lançou a seguinte afirmação: "nos primórdios dos sites de relacionamento todos pareciam ultra-interativos; o tempo passou e agora todos clamam por privacidade na rede".

No rastro da sua fala, lembrei que nesta era virtual a rapidez também é a sua pior inimiga. Basta lembrarmos que há 4 ou 5 anos o Orkut era moda; havia comunidades para cada um dos seus frequentadores. Hoje parece uma cidade fantasma. O Facebook agora é o queridinho da vez, mas ninguém sabe até quando.

Nas composições de Vanzye e nas que chegamos a fazer em parceria, as questões existenciais sempre foram o mote principal. Aliás, este foi um assunto que sempre permeou as nossas conversas desde a adolescência. Ele não ficaria de fora hoje, quando parece ser ainda mais a tônica humana.

Ainda em nossa conversa no Facebook, meu amigo foi certeiro em sua análise: "na rede tem a questão da rápida saturação de tudo; tem a questão da falta de ética, da falta de respeito e de reciprocidade entre internautas, gerando retração da interação e refúgio das pessoas em grupos fechados ou em si mesmas; tem o triste esvaziamento e sucateamento de palavras antes sagradas como ‘amizade' e ‘comunidade'; tem a mistificação da rede por tecnicistas pós-modernos em suas crenças ilimitadas nas chamadas ‘novas tecnologias de comunicação e informação'; são as implicações ideológicas da globalização econômica capitalista. Ultimamente tenho pensado sobre essa questão, entendendo-a como paradoxal: fácil acesso, eficiência e eficácia das ‘novas tecnologias de comunicação e informação' em meio a uma profunda e difícil crise de interpessoalidade na própria rede".

Completei a sua reflexão, reforçando a tese de que devemos nos atentar para uma constatação óbvia: a internet e todas as suas invenções não mudaram a essência do ser humano. Assim, as pessoas "fora" dela são exatamente as mesmas "dentro", ou seja, quem é superficial se comportará assim; quem é antiético encontrará um jeito de também sê-lo na rede; e por aí vai. O que há de diferente (e que eu acho fantástico!) é a possibilidade de qualquer anônimo encontrar o seu próprio canal de comunicação, nem que seja com um interlocutor apenas. O alcance da "voz" e da "vez" de cada um é extremamente ampliado. Assim como também pode ser ampliada a própria solidão, camuflada pelas centenas de contatos que cada um ostenta.