A LENDA DE SNAZALACK

Olhai os montes que circundam a cidade; olhai o rio que banha os seus pés; senti a alegria que emana nos ares; respirai o perfume dos nossos pomares. Olhai as mulheres de rara beleza; morenas e louras, mulatas faceiras, a exótica beleza da negra daqui nos dá um prazer imenso em viver.

Olhai, só olhai; senti, só senti; não toqueis em nada, disse um dia o poeta, tudo isto é sagrado.

Diz a lenda que, um dia, um forasteiro errante, ao passar por Cachoeiro, sem nada saber, infringiu inocente o “grande preceito”, e uma linda mulher daqui ele amou. Prisioneiro ficou, aqui entre as serras, sem saber explicar o que o prendia.

Ele era um poeta, um grande escritor, um mestre das artes.

Aqui ele ficou.

Sentiu emoções, o suave perfume daqui respirou, por esta mulher ele apaixonou-se.

Era um grande artista, e ela também... Eles se amaram e eram felizes...

Os filhos vieram, a família cresceu... Pintores, poetas, cantores, músicos, contistas, escritores, até mesmo atores.

Porém, não podiam nem sabiam explicar por que suas obras, sua arte enfim, ninguém dava valor.

Um dia chegou nesta cidade um velho errante, que outrora vivera aqui nestas plagas.

Diziam que era um mago, um místico, que tudo sabia e de tudo também.

Um jovem artista procurou o bom velho, queria saber.

Foi falando ao “bom homem”: - Por favor, ajudai-me, sou filho desta terra, nasci artista, poeta; domino as artes, porém não consigo nem posso sorrir; a tristeza invade todo meu ser; não tenho prazer nem mesmo em viver. Estou triste, sou só, nem mesmo me amar ninguém jamais quis.

O velho bondoso, com sua paciência, se pôs a escutar.

Notava-se que o artista sofrido, cansado e fraco, com os olhos vermelhos de tanto chorar, queria saber somente o motivo por que tantos valores desta terra não conseguiam vencer, nem se destacar.

Com sua voz trêmula, contava ao místico, todas suas tristezas, suas lutas, suas dores.

Contou sua infância, sua juventude, seus amores desfeitos, suas paixões...Confessou seus complexos, contou seus temores, até traições, e os seus dissabores.

O velho visivelmente comovido com tudo que ouviu, disse: - Calma meu filho, que vou contar-lhe, tudo que sei desta sina cruel que vem magoar-te.

Existe uma lenda que por um grande mistério não sei explicar, ficou escondida, fugindo até mesmo da perspicácia dos melhores historiadores desta terra tão linda.

Eu a chamei sem medo de errar, de “Lenda de Snazalack” .

Achei certa vez, há anos e mais anos, quando em outra viagem passei por Cachoeiro de Itapemirim, um roto pergaminho que me deu muito trabalho para poder decifrar.

Depois de muitos anos de trabalho total, após lê-lo várias vezes, concluí com segurança, hoje posso afirmar. Que todos vocês, artistas daqui, que não conseguem sair dentre as serras tão belas que cercam a cidade, são descendentes de um forasteiro que um dia infringiu os preceitos tão rígidos do povo antigo desta acolhedora região. Esta norma dizia que um estranho jamais poderia amar uma artista deste belo lugar.

Do livro ARQUIVOS DE SNAZALACK

O autor é membro efetivo da Academia Cachoeirense de Letras,

Fundador e primeiro presidente eleito da Casa da Cultura

de Cachoeiro do Itapemirim.

E-mail – salmocalazans@yahoo.com.br

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