PARA VOCÊ, PAI!

Pai [Do lat. Pater, atr. das f. padre, pade e pae.] s.m. Homem que deu vida a outro; homem que tem um ou mais filhos; genitor, progenitor.

"Para onde fores, Pai, para onde fores / Irei também, trilhando as mesmas ruas... / Tu, para amenizar as dores tuas, / Eu, para amenizar as minhas dores".

Augusto dos Anjos (1884-1914)

Salmo Calazans

Infelizmente, se muitos de nós fôssemos meditar nessas belas palavras de Augusto dos Anjos, qual não seria a nossa surpresa ao percebermos que elas não têm mais o valor, o sentimento e o verdadeiro significado que gostaríamos que tivessem...

Naquele momento, perceberíamos com um misto de tristeza, arrependimento, saudade e dor, quantas oportunidades perdemos quando ainda contávamos com a presença física de nossos pais...

Já repararam como, muitas vezes somos injustos com aquele que, usado por Deus, foi responsável pela nossa existência?

Oh! Como seria maravilhoso se todos nós tivéssemos a consciência tranquila ao fazermos uma sincera reflexão sobre os ensinamentos de Deus em relação aos nossos deveres para com o nosso pai. Em Provérbios 1: 8 encontramos o seguinte ensinamento: Filho meu, ouve a instrução de teu pai... Em Provérbios 10: 1 ...O filho sábio alegra a seu pai... No livro de Efésios 6: 1 Vós, filhos, sedes obedientes aos vossos pais no Senhor, porque isto é justo.

Tenho plena convicção de que todos nós seríamos mais felizes se realmente estivéssemos seguindo esses preceitos maravilhosos do nosso Criador.

Entretanto, o que observamos atualmente é sintomaticamente o contrário desses ensinamentos bíblicos.

O homem, para tentar aliviar um pouco a consciência, criou um dia específico para que os filhos possam homenagear a seu pai, como se os nossos genitores só necessitassem de amor, afeto e carinho apenas em determinado dia do ano.

Nesse dia, alguns filhos se reúnem, sim, eu disse alguns, porque, na realidade, nem nesse dia a maioria dos filhos se presta a se penitenciar diante da figura paterna para emprestar-lhe, por alguns minutos, um pouco de sua presença física ou, quem sabe, mesmo forçando um pouco, uma fração de seu calor humano.

Quando penso nisso, francamente, não posso evitar a imensa tristeza que invade minha alma.

Incontáveis são os filhos que se enchem de fictícia razão para agirem dessa forma...

Muitos até procuram apontar certos procedimentos de seus pais, classificando-os como erros, para poderem justificar a própria falha, ou melhor, dizendo, a desobediência aos preceitos de nosso Deus.

Será que esses filhos ainda não pararam para pensar e arguir a si mesmos se realmente eles são tão perfeitos que têm até o direito de julgar os procedimentos de seus próprios pais?!

E aqueles que dedicam apenas um pouco de seu "precioso" tempo a seus pais somente naquele dia do ano que foi convencionado de "Dia dos Pais?”.

Será que já esqueceram os sacrifícios que seus progenitores dedicam, ou dedicaram, para poder proporcionar-lhes um futuro mais promissor?

Será que olvidaram o dia-a-dia de trabalho árduo e cansativo que seus pais enfrentaram, ou, quem sabe, enfrentam até hoje, com a única finalidade de poder dar-lhes uma qualidade de vida mais digna?

Existem também aqueles filhos que, quando seus pais não estão mais produzindo, sem ao menos ouvirem a opinião deles, e sem hesitarem, na primeira oportunidade, os internam em asilos para idosos. Quanta insensatez, meu Deus! Quanta maldade...

Colocam-lhes naquele ambiente "frio", abandonados à própria sorte, apenas com suas recordações, e, constantemente, orando a Deus pela felicidade dos filhos que os abandonaram.

E o pior de todos é aquele filho que durante toda a vida de seu pai jamais teve uma palavra de carinho para com ele, procurando-o apenas quando necessitava de algum bem material.

Há também aquele que, além de não ouvir os sábios ensinamentos do seu pai, durante toda a existência dele, trouxe-lhe dissabores, tristezas e desonra ao nome que ele, com muito cuidado, soube preservar durante todos os seus dias aqui na terra.

Encontramos também aqueles que, talvez por peso na consciência, ou até quem sabe, para dar uma satisfação a seus filhos, esforçam-se para fazer de conta que, com muita "saudade", recordam-se dos pais que "infelizmente" já partiram para a eternidade.

Que hipocrisia... Será que não imaginam que seus filhos, amanhã, seguindo este exemplo, também poderão agir exatamente como aprenderam com eles?

Oh! Como seria bem melhor se, a partir de hoje, prestássemos mais atenção em alguns pequeninos detalhes e meditássemos sobre como o tempo passa tão rapidamente...

Por que não seguirmos os conselhos que Jesus nos ensinou, que é procurarmos honrar mais os nossos pais enquanto eles estão ao nosso lado? Por que não lhes dedicarmos mais carinho, mais atenção, mais um pouco do nosso tempo para ouvir o que eles há muito desejam nos confidenciar?

Por que não tirarmos pelo menos uns cinco minutos de cada dia para sentarmos ao lado do nosso pai, apenas para que ele sinta a transfusão de amor que com a nossa presença imaginamos estar proporcionando a ele.

Se achar que esses gestos são difíceis para praticar e que, na realidade, não sente amor nenhum pelo seu pai, por favor, pense pelo menos em você mesmo. Pense em que, agindo dessa forma, quem sabe, nalgum dia, um dos seus filhos, quando você já estiver na situação que seu pai se encontra hoje, poderá, com esse mesmo sentimento, retribuir-lhe "tudo de bom" que você está proporcionando, hoje, a seu pai.

Para finalizar, gostaria de deixar registrado, o meu carinho, o meu respeito, o meu sincero amor, e todo o meu agradecimento a meu pai e a todos vocês, pais que, muitas vezes, esquecendo ingratidões, no silêncio de sua solidão, jamais deixaram de amar aqueles que foram gerados por vocês.

Parabéns, pai, e muito obrigado por tudo...

(Do livro EU CREIO!)

O autor é membro Efetivo da Academia Cachoeirense de Letras,

fundador da Casa da Cultura de Cachoeiro de Itapemirim e primeiro Presidente eleito.

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