DA FALTA DE ASSUNTO
É... chegou a minha vez. A vez em que não há muito o que escrever. As palavras brigam entre si e brigam comigo. E não querem dizer o que eu quero que digam. Simplesmente não dizem. A hora morta da madrugada não ajuda. Não ajuda em nada. Os ponteiros e a luz fraca não ajudam. O quase silêncio da rua não ajuda. E o que fazer? Escrever sobre o não poder escrever?
É... chegou a minha hora. A hora em que eu, ao invés de um assunto qualquer, cotidiano, breve, direto e certeiro, forçosamente escreverei sobre o não escrever.
Para o cronista é só pensar na frustração que essa circunstância provoca. Não ter o assunto, não ter a idéia, não ter nada. Uma palavra basta. Uma palavrinha. Aquela palavra tábua de salvação. Mas não há.
E me sinto como José: sem mar, sem Minas, sem paredes nuas, sem caminho. E agora, José? E agora você?
Você que faz crônica e que olha a rua e as gentes e os sorrisos. Você que escuta o mar, que sonha e antevê os navios. Você. E agora?
Não há mais tráfego, não há mais bala perdida, não há dólar na cueca, não há arrastão, não há especulação e não há desvio de verbas em prefeituras após tragédias climáticas.
E agora, José? E agora, você?