FALTA AMOR E SOBRA DESRESPEITO
 
Fui criado por meus pais, dentro de uma disciplina natural, pais são pais e filhos são filhos, mas não me lembro de ser permitido urinar fora do pinico. Era um convívio sobre maneira harmoniosa, e logo aprendi que a responsabilidade está em você reconhecer o seu espaço entre os seus deveres e os seus direitos, mesmo quando se é criança.
Vivi a minha criancice com a intensidade de qualquer criança: brincava, estudava e brincava; sem jamais esquecer que os meus pais eram o sustentáculo desse meu tempo de ser criança. Isso faz toda a diferença e delimita o grau de respeito entre os pais de hoje e os pais de ontem.
Aprendi cedo que os finais de semanas são para descansar, em sendo criança brincar, o termo mais conhecido e o mais desejado em meu tempo de menino. Cedo também aprendi que eu tinha hora marcada com o compromisso todos os dias. Ir a escola na hora certa, voltar para casa dentro do tempo costumeiro, e fazer a lição de casa a cada dia da semana, sem ninguém a me obrigar. Era um compromisso de criança, que a época costumava-se respeitar.
Foi assim que eu cresci, formei família e criei meus filhos, dentro desse respeito, pautando a boa convivência entre pais e filhos.
Quando vejo hoje ou escuto a falta de entendimento entre os membros de uma família, brigas entre filhos e pais, entre os próprios irmãos; então percebo que nenhum deles procurou dimensionar os seus direitos e deveres, permitindo-se viver na terrível fantasia: viva e me deixe viver; você não me incomode e eu não te incomodo.
No fundo, porém, o desrespeito entre esses, vai crescendo até se transformar em questões sociais explosivas, onde ninguém consegue enxergar no outro o seu próprio limite.
Eu muito admiro a escritora Martha Medeiros, e lendo a crônica Sua Majestade, a Criança, em seu livro, Feliz Por Nada, na pagina 66, ela começa dizendo: “Tem se falado muito na falta de limites das crianças de hoje”.
“A garotada manda e desmanda nos pais e estes, sentindo-se culpados pelo pouco tempo que ficam em casa, aceitam a troca de hierarquia – hoje os adultos é que recebem ordens e reprimendas, e não demora serão colocados de castigo”.
O que essa meninada precisa ouvir de seus pais é um sonoro NÃO, logicamente com o devido porque não... Mais adiante Martha Medeiros complementa: “É a ausência do não que faz com que meninas saiam de madrugada sem avisar para onde estão indo, garotos peguem o carro do pai sem ter habilitação e todos sejam estimulados a consumir descontroladamente, a não dar explicações e viver sem custódia. Mas onde encontrar energia e discutir com o filho? Pai e mãe se jogam no sofá e pensam: façam o que bem entender, desde que nos deixem quietos vendo a novela”.
Aqui estar o limiar da autoridade entre os pais do ontem e os pais do hoje. Assusta-me imaginar os pais do amanhã.
 
                          Rio, 04/10/2011
                         Feitosa dos santos