Marcha Soldado Cabeça de Papel
Um canção infantil divulgada em diversas escolas pelo Brasil, que ainda me recordo a letra, diz o seguinte: "Marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito, vai preso no quartel. O quartel pegou fogo, a polícia deu sinal. Acode! Acode! Acode! A bandeira nacional".
Vamos analisar essa breve letra, com implicações político sociais, procurando nos ater ao cartáter "nacionalista" que é abordado.
No início da canção temos a figura do soldado, símbolo da "pátria" tupiniquim, que ostenta essa impáfia militarista que faz parte da história ditatorial de nossa famigerada República. O soldado é a figura do servil, pela própria posição hierárquica dentro da estruturação das Forças Armadas, sendo passivo de mando diante dos superiores.
O segundo ponto, após a analogia do soldado com o cidadão, que inclusive alimentou facismos no século XX e outros desdobramentos dos mesmos no século XXI, quiçá ditaduras "latino americanas". Agora, temos o "soldado cabeça de papel". Vejam, não se trata dos meninos imitando soldados com chapéu feito de jornal, não diz a letra "soldado com chapé de papel", mas com "cabeça de papel", é a cabeça desse sujeito subserviente que é vista como lauda, em branco, lockeanamente falando. Uma folha em branco, pronta para ser preenchida pelos "valores pattriotas".
Em seguida temos uma severa admoestação, "se não marchar direito vai preso no quartel", a questão de ordenamento e disciplina, demonstrando objetivamente o intuito, com as implicações em não seguir aquilo que foi determinado. Procurando excluir com essa repreensão, a crítica ou posturas que sejam contrárias ao "regime".
Segue a letra, "o quartel pegou fogo", nessa parte temos algo mais recôndito, podendo tanto se referir a fogo no sentido simbólico, como de uma rebelião, como no literário, em chamas consumindo o local. De qualquer forma, em ambos os sentidos temos a ideia de perigo ao quartel, que prefiro chamar de "nação".
A polícia vem dar o alarde de algo está errado, vejam que são as sentinelas soldadescas, prontos a "vigiar e punir", que irão manifestar o sinal. Serve a duplicidade de sentidos do fogo, na forma efêmera, a tentativa de conter a revolta, na forma literária, conter as chamas.
Por fim, a concretização máxima do "nacionalismo", "Acode! Acode! Acode! A bandeira nacional." Numa situação de incêncio ou revolta, vale resguardar o quartel ou nação, a integridade soldadesca é posta de lado em nome de interesses "maiores". Deve-se dar a vida em nome da bandeira, o símbolo prevalecer sobre o sujeito, tornando-o assujeitado. Pois a ideia de nação é posta como "globalizante", ela engole a massa e faz dessa, objeto de manobra em nome de "grandes objetivos".
Assim, desde pequenos ensinamos nossos filhos, a servir sem questionar, sempre com o medo da punição pairando, tendo como resultado causas distintas das suas, que são apontadas como medíocres, diante do Estado e sua doutrina servil, disciplinadora, cruel, que ao mesmo tempo vende sonhos, que nós compramos. O sonho, o ideal do herói, o soldado, aquele que se sacrifica pelo "bem maior", o "cordeiro", o falso "übermensch", que provocaria o asco profundo de Nietzsche.