LEMBRANÇAS INCRUSTADAS
A natureza intuitiva da qual somos dotados, nos mostra a cada dia e sempre mais, que, as lembranças inesquecíveis que ficam definitivamente incrustadas no mais íntimo do nosso ser não são aquelas que foram pautadas em trivialidades, nas coisas banais do cotidiano, mas sim, aquelas que nos causam comoção que pode ser tanto de alegria quanto de tristeza.
No transcorrer da existência humana, vivenciamos abundantes bênçãos divinais, as quais, não só deixam marcas imorredouras de gratidão, como também provocam mudanças comportamentais. São muitos os casos de pessoas que após passarem por cirurgias dificílimas, ou de terem sido salvas milagrosamente de uma tragédia qualquer, renascem para a vida com a alma mais leve e plena. Tornam-se bem mais compreensíveis e aquiescentes. Outras existem que, após experienciar uma grande desilusão amorosa, a perda de um ente querido ou derramarem prantos de dor motivados por intempéries do acaso, começam a olhar a tudo e a todos com mais cautela, sem a mesma confiabilidade de outrora e vagam temerosos de uma nova desilusão. Um exemplo tácito de que a saudade só é latente quando provém de um acontecimento profundo de dor ou alegria, é o fato de ser um dos temas mais explorados por poetas e poetisas de todo o mundo, os quais, tratam a saudade com tal profundidade e lirismo em seus poemas, odes e contos apaixonantes, como se este sentimento fosse o porto derradeiro dos seus corações.
A flecha da saudade, portanto, não fere apenas os corações esmaecidos por uma felicidade que tenha marcado a nossa vida, como por exemplo, as lendas inesquecíveis da infância, que ficam para sempre incrustadas na memória, mas também, os corações nos quais repousam o amargor de alguma desventura ou desilusão que insiste em visitar vez por outra os nossos corações, trazendo-nos angústias e névoas de desesperança aos nossos sonhos e projetos futuros.
Somente as lágrimas provocadas por intensa felicidade ou por profunda dor, trazem a nostalgia silenciosa que invade as nossas vísceras e, sorrateira, perturba ou alisa a nossa calma.