O preá
o preazinho que jamais esqueci. Era
Noite, minha mãe havia ganhado um
Preá, morávamos no interior, nossa casa
Era muito grande, estávamos sob à
Ténue luz da lamparina, minha mãe me
Entregou o preá falando assim: Segura
Esse preá bem firme, que eu vou fechar
Todas as portas, olha bem, se Você
Deixar ele sair, vou te dar uma surra
Daquelas. Sim senhora mamãe, lhe
Respondi. Minha mãe parecia que estava
Sempre com raiva e eu tinha muito
Medo dela. Enfim, determinada a cumprir
Essa tão difícil missão, por nada eu
Soltaria aquele preazinho. E ela saiu,
Fechando portas pra todo lado. Num
Determinado momento, o preazinho
Que tentava fugir a qualquer custo
Dessa vez, arregimentou toda a sua força
E como que numa última tentativa de
Fuga, arremessou-se rumo à sua tão
Deseja liberdade. E foi por pouco, mas
Eu, estava determinada a não lhe
Soltar, por nada dessa vida. Apertei-o
Com toda a minha força então senti
Como se ele estivesse soluçando e foi
Ficando mais quietinho, ficou molinho
E por fim, parou de se mexer, Fui
Folgando as mãos devagarinho pois
Ainda não confiava, ele poderia estar
Fingindo que estava dormindo. Mas
No fundo eu percebi que algo errado
Estava acontecendo. Fui abrindo as
Mãos devagarinho e ele estava quietinho.
Percebi então que ele havia morrido.
Gelei tremi, tive remorso pena, medo
Pânico, fechei as mãos novamente,
Com ele mortinho dentro e minha mãe
Vinha se aproximando. E então falou:
Pronto, fechei todas as portas, duvido
Que ele consiga fugir agora, pode soltar
Ele aí no chão. Pensei: Ele não ia
Mesmo mais fugir. Agora eu sim, se
Tivesse coragem, fugiria, mas era
Uma noite escura, tinha medo até
De sair na calçada. Então baixei e fui
Abrindo as mãos devagarinho até que
Ele deslizou e caiu sem vida ali no
Chão da quela sala. Confesso que
Eu também estava quase igual a ele.
Só não estava morta mas, faltava
Pouco para isso, eu tremia muito e uma
Angustia tão grande, me sufocava.
Sentia medo e pena do preá e ela me
Olhando incrédula, finalmente falou:
Menina, tu conseguiu matar o preá?
Com aquele olhar, que me fez sentir
Uma criminosa e aquele tempo em
Que ela me olhava, parecia mais uma
Eternidade e em silêncio, ela saiu sem
Me bater, o que me pareceu um milagre,
Fiquei ali sozinha e chorando passando
As mãos no preazinho com muita dó dele
E me sentindo culpada pela sua morte e
Nunca mais eu esqueci dessa cena que
Marcou muito minha infância e minha vida.
Se ele tivesse ido embora, talvez eu nem
Tivesse apanhado, mas eu não sabia, ou
Seja, não pensei nessa possibilidade, pois
Lá a coisa era séria. Mas, mesmo não
Apenhando a dor foi grande e inesquecível
Kainha Brito