Terror on-line
Vivemos dias tão estranhos que terminamos criando uma "carapaça emocional" para nos proteger das inúmeras notícias funestas. Há quem diga que a humanidade já tenha vivido épocas ainda mais tenebrosas com o registro de todo tipo de atrocidades. Pode até ser verdade, mas posso afirmar que nunca as tragédias e barbaridades provocadas pelo ser humano foram tão rapidamente disseminadas e absorvidas como na atualidade.
Passaria o texto inteiro enumerando uma sequência desse tipo de notícia ocorrida no mundo apenas nesta semana. No entanto, mencionarei apenas uma, registrada na última segunda-feira (29). Vale ressaltar que sequer foi uma das piores ou mesmo que teve um desfecho trágico. Simplesmente me chocou por ter ocorrido na minha terra natal (Boa Nova), um município genuinamente pacato, de aproximadamente 15 mil habitantes, localizado na região serrana do Sudoeste baiano.
Encontrava-me on-line na internet pouco depois das 9 horas, quando um conterrâneo postou no Facebook a informação de que estava ouvindo um barulho na rua que parecia tiro. Pouco tempo depois ele voltou a enviar outra mensagem, confirmando que havia vários homens encapuzados e fortemente armados circulando pela cidade, e que se tratava de uma verdadeira invasão para assaltar o Banco do Brasil, uma casa lotérica, a agência dos Correios e o comércio local.
A partir daquele instante as pessoas que estavam on-line em Boa Nova e fora começaram a trocar informações, ao mesmo tempo em que na cidade também ocorria uma intensa comunicação via telefone e internet com o intuito de avisar os moradores para trancarem suas casas, seus estabelecimentos comerciais e manterem as crianças dentro das escolas. Isso foi decisivo para que uma tragédia fosse evitada, uma vez que rapidamente todos fizeram exatamente assim. Àquela altura eu já havia conseguido ligar para meus familiares, confirmando que todos estavam bem.
De Viçosa-MG consegui ligar para a TV Sudoeste (afiliada da Rede Globo, com sede em Vitória da Conquista), avisando do ocorrido e pedindo cobertura jornalística. Outras pessoas fizeram o mesmo com outros órgãos de comunicação e com as Polícias Civil e Militar dos municípios da região.
Pela internet várias pessoas iam narrando o desenrolar daquele momento de terror coletivo. Algumas diziam que os assaltantes chutavam portas do comércio para forçar a sua abertura, ao mesmo tempo em que atiravam para o alto e trocavam tiros com a PM. Um trailer de lanches e a barraca de um ambulante, além de paredes de várias casas, foram atingidos por balas.
Os assaltantes fugiram levando como reféns dois policiais militares e o gerente do Banco do Brasil. Felizmente, eles foram soltos ilesos algum tempo depois. Para dificultar a perseguição policial que eles sabiam que aconteceria, os bandidos atravessaram veículos nas duas direções da BR 030, que corta o município e liga as duas grandes rodovias que atravessam a Bahia (a BR 116 e a BR 101), ateando fogo neles em seguida. Sabe-se que muito dinheiro foi roubado, além de produtos eletrônicos de algumas lojas. Não houve feridos.
Não foi a primeira vez que um assalto nesses moldes ocorreu em Boa Nova. Provavelmente não será a última. Diversas cidades pequenas de todo o Brasil também têm sido alvos constantes do crime organizado, que se aproveita justamente do estilo de vida pacífico nessas comunidades e da falta de segurança. Essa é a nossa "guerra civil", que reflete muito bem os caminhos que a humanidade escolheu ao longo das últimas décadas. Reflete também essa nova era tecnológica, que nos permite compartilhar instantaneamente fotos, vídeos e informações trágicas.