O Sapo Não Lava o Pé
Existe uma cantiga infantil que diz, "o sapo não lava o pé, não lava porque não quer, ele mora na logoa, não lava o pé porque não quer, mas que cheirinho de chulé".
Analisando a música, aparentemente infantil, observamos a mensagem subliminar exposta. Se pegarmos outra fábula infantil, temos um príncipe transformado em sapo, por conta de um feitço lançado, a princesa ao beijá-lo, desfaz o malefício.
Podemos perceber que o príncipe seria o homem idealizado, aquele que atende os requisitos da princesa, que também seria uma mulher ideal, levando em consideração o valor de exaltação atribuído a aristocracia.
Os sapos já vivem num ambiente de lagoa, ou seja, se banham a todo instante, não seria po falta de banho que teriam chulé, o que faz pensar sobre outro aspecto. Esses anfíbios não possuem essa faculdade de querer, ainda mais no que se refere a uma questão estética-odorífica.
Logo, o sapo em questão representa a figura do homem bizarro, anômalo ao que respeita a ordem, ou seja, o que lava os pés, se banha, se cuida, seria o plebeu, não condicionado por um querer ser, mas por sua possibilidade de querer, tanto pelas restrições em relação ao modelo aristocrático, quanto a sua recusa em seguir as normas que esse poder institucionalizado lhe deseja impor.
Na música, a princesa não o beija para que ele volte a ser príncipe, quer dizer, não existe uma norma, como o casamento, que o faça adequar-se, um rebelde sem retorno, um marginal diante da postura formal.
Diante de tal atitude revoltosa, ele é reprovado por todo o corpo social, tendo seu comportamento exposto em forma de cantiga humilhante, causando assim repugnância aos futuros sapinhos cantantes, que mesmo se tornando anfíbios ao crescer, deverão ter o mínimo de postura e pelo menos lavar os pés, por mais que a lagoa já seja seu hábitat. Quem sabe adotar, ou melhor, comprar um "sabão burguês" para seu banho ganhar ares de "higienização".