Maria Clara dos Anjos
Prólogo: Dia nublado. Nublado também meu espírito. Nesse tempo tem quem busque calor humano, mas quem queira conserva-se o seu apenas para si.
Maria Clara dos Anjos, uma figura pateticamente simpática, sempre a sorrir [penso que quem sorri demais nasceu com algum distúrbio mental, quem sorri de menos o adquiriu ao longo da vida]. Mas essas pessoas exageradamente simpáticas tendem sempre a achar que são necessárias e quase sempre não percebem quando sua presença é repulsiva. Bem, estava esperando a desnecessária aula de fim de período. Ela senta do meu lado [Deus, porque larguei a merda do fone em casa?]. Estamos sós, eu e ela. No meu desespero de encontrar uma saída estratégica, pego esse livro velho de poemas de Pessoa [nem estava a fim de lê-lo agora, mas antes isso do que travar qualquer conversa com esse ser levemente loiro e cortês ao meu lado]. Ela pigarreia, finjo que não ouvi. Ela então decididamente convicta de que está fazendo algum bem me tirando do meu estado quase catatônico, faz a pergunta estupidamente infeliz: “gosta de poesia?” Eu respiro, afinal, minha mãe fez um bom trabalho e apesar de não querer dar o braço a torcer, ainda sou um poço de educação e polidez. “sim”. Uma resposta clara e curta afim de limitar qualquer expectativa de iniciar-se uma conversação [mas, infelizmente tem quem não entenda um corte sutil. Não entenda ou se faça de maluco mesmo, as vezes nem sei ao certo...] Daí, meus caros amigos foi ladeira abaixo, sempre fazendo perguntas sobre esse ou aquele autor, esse ou aquele filme. Eu me surpreendi, confesso, aquela forma rosada e sorridente ao menos sabia ler e lia bons autores. Cedi. Larguei o livro no colo e conversamos sobre muitas coisas [que não relato, porque nem vem ao caso]. Mas então, como para me lembrar que em dias de frio é sempre melhor ficar só, veio-me com a pergunta cândida: “acredita em cara metade?” Juro, amigos foi um esforço para que não despejasse o cinismo [amigo oculto meu] em cima da pobre criança. Acho que saiu-me algo como um esgar. Ela pareceu declinar de saber a resposta e então se calou. Eu sempre tenho essa pena das almas infelizes que buscam freneticamente algo a que se agarra, e ela parecia quase translúcida, agora com os olhos e bochechas vermelhas. Então lhe perguntei: “você acredita que só existe uma pessoa na terra que pode junto com você compartilhar a felicidade?” [porque ninguém faz ninguém feliz, se você ainda não sabia, aprendeu agora! Viu? O RL também é educação! Ahuahuahauha] Ela sorriu [e confesso aquele foi o sorriso mais demente que já vi]. “Sim!” Ponderei as palavras e fiz outra pergunta “sendo assim, e se ele já estiver morto?” [Talvez um toque sutil de realidade ajudasse a pequena a entender meu ponto]. Nunca soube se ela entendeu, só vi ela dando esse meio suspiro e olhando-me apavorada enquanto se levantava e fugia como se eu fosse o próprio demônio. Ainda fiquei um tempo pensando sobre sua atitude, teria eu exagerado? Não, acho que não. De toda maneira relembrando quando ela conversava relativamente lúcida [porque é uma idiocrasia minha ficar ruminando textos, conversas, músicas, filmes e afins], fez-me lembrar de um amigo meu. Pensei em apresentá-la, porque se ainda existem dessas pequenas que acreditam em príncipe encantado, existem dessas figuras que realmente acreditam que o são. E ri com o pensamento. O professor faltou [aquele filho da puta!!]. Peguei o elevador e quando preparava-me para sair pela saída principal da faculdade. Poo! Aquele barulho seco já tão conhecido por quem estuda na UERJ. Eu não fui ver, porque sinceramente acho bastante estúpido e sem classe se jogar do 12º da UERJ. Peguei meu ônibus, rascunhei alguns textos e logo cochilei.
Epílogo:
No dia seguinte, chegando à classe outras criaturas rosadas e sorridentes só esboçavam um ar triste [daqueles que só as piores atrizes são capazes]. E fui informada: “Maria Clara se jogou ontem do 12º”. Fiquei realmente horrorizada, afinal gastei meu tempo e paciência com a infeliz criatura na noite anterior [humf! Tenho que aprender a ser mais incisiva!]. “E porque ela se jogou? Alguém sabe?”. “Ah, ela tinha um bilhete no bolso da calça... dizia que ela havia descoberto porque se sentia infeliz, sua cara metade estava morta!”
Moral da história: Se você acha que é melhor ficar sozinho, definitivamente faça acontecer!
Moral2: Nunca dê atenção a pessoas rosadas e sorridentes, elas podem saber ler, mas ainda assim são estúpidas!
Moral3: As suas verdades, não as compartilhe com ninguém, pois se são suas dever haver algum motivo espiritual para tal, afinal existem verdades que matam a incautos.
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ps: essa história foi baseada em fatos reais.
ps2: que Maria descanse em paz!