Pequenos gestos de carinho
Fátima Irene Pinto
 
Recebi, outro dia, um e-mail de uma querida amiga onde ela pedia que eu deixasse um recadinho no seu livro de visitas. Eu mesma, sempre que edito um texto novo, quase sempre peço para darem seus pontos de vista ou deixarem algum comentário sobre o que foi escrito.
Fiquei pensando esta manhã: por que precisamos dos recadinhos e pontos de vista? Por que precisamos destas ternas palavras? Por que precisamos da reação do outro face àquilo que foi a nossa ação criativa? Não deveria nos bastar o fato de nós mesmos estarmos contentes com aquilo que criamos?
 
Na verdade precisamos sim, do outro. Não necessariamente de platéia que venha a inflar o nosso ego... se assim for, estaremos dando prova de imaturidade emocional e baixa estima. Na verdade o que precisamos é de interação, de saber que nosso trabalho é válido, que ele é entendido, que a declinação de nossos sentimentos e a narrativa de nossas experiências, encontram ressonância do outro lado da linha, seja em concordância, seja em discordância, seja em acréscimo. Há leitores que, a partir do que escrevemos, se inspiram e nos dão uma devolutiva com visões que não havíamos percebido. Tudo isto faz a gente crescer. Enfim, os leitores crescem com a gente e a gente cresce com eles, numa dinâmica e num intercâmbio bastante salutares.
 
Quem cria algo, não cria para si mesmo. Seja um designer, seja um formatador, seja um intérprete, seja um cronista, seja um poeta.
Tenho uma amiga poetisa que, há anos fez um site e nele colocou apenas uma pequena amostragem de seus poemas. Ela tem incontáveis poemas. Quando lhe perguntei por que não os publicava, ela me respondeu de forma categórica:-Porque roubam e eu não quero ninguém ganhando dinheiro ou prestígio com aquilo que é meu.
Bem... não lhe tiro totalmente a razão. Quem de nós, cá da virtualidade, já não amargou a experiência de ver os próprios trabalhos afanados ou dados a outrem?
Mas a minha amiga, na verdade, tem uma luz e a escondeu debaixo da cama, ao invés de levantá-la bem alto para que todos pudessem usufruir. Quando morrer levará consigo as suas pérolas porque o medo de vê-las roubadas é bem maior do que o ideal e a paixão de deixá-las seguir em frente.Como dizia P.Ubaldi "o fruto se deixa tragar a fim de que sua semente seja levada para longe".
 
Mas voltando à questão dos recadinhos, se você leitor, ver um site, um blog, um pps, um poema, uma crônica, uma declamação que, de fato, tenha sido útil ou tocado o seu coração, perca um minutinho e dê uma devolutiva ao autor(a), mas faça-o apenas se for sincero da sua parte, nunca por cortesia nem por permuta. É horrível quando alguém escreve uma "lauda" em nosso recanto e em seguida nos faz um pedido absurdo. Tudo isto tem que ser muito espontâneo.
 
É bem verdade que na Net tudo é excessivo, tudo aqui é demais e, muitas vezes, as pessoas realmente não conseguem achar tempo para comentar ou dar devolutivas a tudo que recebem. Podemos compreender isto claramente. Ainda assim, quando algo lhes tocar o coração, lembrem-se de alimentar a fonte que os alimentou. Recadinhos, pontos de vista, são pequenos gestos de carinho e, por conta deles, a gente acaba seguindo em frente mais um pouquinho.
 
E, no ensejo, fica a minha perene gratidão a todos aqueles que me leem, comentam e repassam meus textos. Esta é toda a minha recompensa e toda a minha gratificação que, excedem em muito, os royalties que recebo pelas edições de meus livros.
 
21/06/2011
Descalvado - SP
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 28/06/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T3062193
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.