TRINTA ANOS SEM MEU PAI,VINTE E SEIS SEM MINHA MÃE-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed. de 11 de junho de 2011
Meu Pai:
Parece que foi ontem! Quinta feira, 11 de junho de 1981, na velha e acolhedora casa grande da Fazenda Pocinhos, nos Estados Unidos de Cabaceiras-PB; a Rulyoode Nordestina. Eram seis da matina, quando você mandou me chamar no curral, para irmos ao roçado, detrás do açude da porta. Ao lá chegarmos, você contemplou longa e silenciosamente o partido de milho e de feijão, as ramas de batata, as melancias, gerimuns, maxixes e chorou copiosamente como se estivesse, dalí, se despedindo... Estávamos programados para só voltarmos prá Natal, no dia 13, dia de Santo Antonio. O saudoso tratorista Zé Rocha, já estava de saída para a Serra do Monte, onde foi buscar a lenha da fogueira e você me mandou ir à Malhada da Roça, apanhar compadre Júlio Prêto. Quando voltei, umas dez e meia, você estava com uma bruta falta de ar e teimando como sempre, em permanecer na fazenda a até o dia em que estava marcada nossa volta. Mas, eu e Rivaldo motorista, o colocamos no banco da Veraneio e xispamos para Campina Grande, onde passamos como um relâmpago, pela casa de Margarida e pegamos a rodovia do anel do brejo em procura de Natal, chegando aqui no final da tarde. Na velha casa da Rio Branco, na Ladeira do Baldo, seu Nelson enfermeiro e Dr. Helen Costa já estavam a postos, à nossa espera. Você desceu da Veraneio e usou pela primeira e única vez, o elevador recém instalado do quintal à sala de café e ao terraço do primeiro andar, pois exatamente às 23:45 Hs. você partiu para o outro lado da vida, para as caatingas do além; muito embora, no seu atestado de óbito, conste a data de 12 de junho de 1981... Você se foi e nós ficamos chorando a irreparável perda e com a missão de cuidarmos da já debilitada saúde de mamãe; bem como seguirmos as lições que você nos ensinou e que “nem todos assimilaram”... E você, mamãe; ficou lutando pela vida, por sua saúde já super abalada em virtude da “viagem prematura de meu irmão Clóvis, seu filho mais velho”, aos cinquenta anos e seis meses de idade; e pasmem, queridos leitores e leitoras, lutando igualmente pelo bem estar de “todos os filhos, indistintamente”, muito embora o poder de mando não estivesse em sua mão... E como você sofreu, mãezinha! O que papai deixou para todos, não serviu para todos... A estória não é bem como “contam por aí”; e aos poucos, a verdade está aparecendo, pois o “mestre tempo é implacável e a mentira tem pernas curtas”... Nessa estória, mãezinha; eu fui o “boi de piranha”, título do meu próximo livro, já em fase de produção... E exatamente no mesmo 12 de junho, mas quatro anos após, pouco antes do meio dia, êle, papai; veio lhe buscar, abrandando seu sofrimento material. Na véspera, às 7:30 da noite, Graça enfermeira foi chegando no quarto onde você estava e viu aquele senhor todo de branco, na cabeceira de sua cama. Ao chegar perto, o senhor levantou a vista, caminhou em direção à porta, e ao passar por ela, Graça, desapareceu. Graça gritou e todos correram para ver o que tinha ocorrido. Ao chegar no pé da escada, onde haviam muitas fotos, ela apontou o retrato de papai e falou com dificuldade:
- Era êle; êle estava lá no quarto, perto de Dona Severina!...
Amanhã, mãezinha, véspera de Santo Antonio; estarei comemorando o Santo na porta da minha casa, na Rua Clementino de Faria, em Morro Branco, ao pé da fogueira, e ao som da minha viola caipira, estarei rezando por papai, por você e por todos os nossos que com vocês dois, aí, já tiveram o privilégio de se encontrar...