O Dia das Baboseiras
Hoje, 25 de maio, é dia do orgulho nerd.
Na minha época, costumavam ser nerds os cdf (cu de ferro, pros leigos).
Inclusive, àquela época, todo mundo parecia leigo perto de um legítimo nerd: ele manjava de todos os assuntos que eram comuns a todos – da matemática ao cinema italiano – e passávamos a usar dos nerds como referência.
Lembro-me que passei os dois primeiros anos do colegial (ou o atual mediano) a alcançar as notas através de um apoio incondicional de um nerd. Nota nove em matemática (que, acreditem, valia um Dez maiúsculo!) e quase-nove em todas as outras, foi-me ele a muleta das exatas.
E quando o vestibular chegou então? Sem o meu amigo nerd, como seria? Ultrapassar o terceiro colegial sem aquele cdf (mudei de turma, separamo-nos por desobrigação) foi penoso. Mas aconteceu.
No vestibular eu já estava desgarrado do meu amigo nerd e da sua imensa abnegação para com a pedagogia dos oprimidos. Poucos anos depois, o encontrei num festival de música de quinta, e lá estava ele, João, bebendo e fumando. Impossível para um nerd. Mais utópico do que o não imaginado? – ele e mais algumas meninas, abraçava uma, tirava casquinha de outra – Ele! Pode? João que virou João de Deus naquela rotina que se chama o apelido recebido na escola. Agora um simples ex-nerd desassumido.
Mudaram até o sentido do nerd: bastou gostar de esquisitices ou das outras coisas chatas que quase mais ninguém gosta: aí você é um nerd. Os nerds do século vinte e um não sabem passar cola.
Sei que as ações afirmativas são necessárias, e proteger qualquer minoria é uma obrigação do bom-senso, sei também que os nerds eram minoria obrigatória e jamais escapavam de um bullyng. Mas, daí adiante, ser um nerd bastou considerar-se. Nerd não é mais o tipo que estuda, nerd passou a ser um sujeito que escolhe.
Escolheu ser nerd. Não é nerd de fato, é uma personagem da ocasião. É fazer clube para ser minoria, porque a maioria desconhece um mundo esquisito que apenas pode ser reproduzido em Marte.
Colocou a fantasia do Chewbacca? E aí, reparou que “não existe ignorância, existe conhecimento”? Então, agora tira a fantasia, pois ninguém merece... Ou sujeite-se às nossas gargalhadas!
Fiquei com saudade dos cêdê-éfes do meu tempo. Eram autênticos, quase autodidatas. Adoravam adorar o que nós – os bolinadores – adorávamos. A única diferença é que eles eram responsáveis desde cedo.
E não um babaca como éramos nós, os da maioria. E o fazíamos por opção, já que condição não nos havia.
Assim como a opção tornou-se a coisa que resta aos nerds de hoje.